Gilberto Jasper
Jornalista/[email protected]
A semana que passou foi marcada por dois episódios instigantes. O primeiro foi a pane mundial das principais redes sociais – whatsapp, instagram e facebook. Isoladamente já tivemos quedas semelhantes, mas pela primeira vez houve um blackout simultâneo.
O fenômeno transformou a rotina do planeta. À exceção daqueles que dependem do whats para fazer negócios, os usuários experimentaram uma tarde inédita. Milhões acessaram insistentemente o smarphone para conferir o retorno das redes, o que só aconteceu cerca de cinco horas.
Outro fato envolveu a premiação de dois jornalistas com o Prêmio Nobel da Paz. Maria Ressal (das Filipinas) e Dimitri Muratov (Rússia). Jornalista há mais de 40 anos, sou um crítico da profissão por que nos falta humildade para reconhecer erros que destroem reputações, comprometem biografias e fulminam trajetórias promissoras.
Muitos, de forma míope, viram na premiação apenas um brado de alerta diante de figuras públicas que procuram controlar os meios de comunicação. Entre eles, um notório político de esquerda que emprega o termo ”controle social da mídia”, apelido, na verdade, para censura.
Tradicionais veículos de comunicação traçam loas ao STF quando cala blogs, sites e redes sociais que ousam nadar contra a correnteza que gostariam fossem de unanimidade. O Nobel da Paz deveria fazer refletir sobre o garrote sem critérios que confunde, de forma proposital, “irresponsabilidade na arte de comunicar” com censura vergonhosa.
O comprometimento político-ideológico de parte da mídia ficou evidenciado com maior ênfase na pandemia e impede a autocrítica do segmento da comunicação. Nós, jornalistas, somos desprovidos de humildade para admitir equívocos, rever injustiças, refazer comportamentos. O Nobel, ao invés de estimular uma revisão, turbinou a arrogância daqueles que se acham acima do bem e do mal.
A modernidade guilhotinou o direito do leitor/ouvinte/telespectador/internauta de elaborar seu juízo sobre os fatos. A notícia vem ”pronta”, embora denunciar, investigar, julgar e punir sejam funções definidas pela Constituição.
A mídia atropela o ordenamento jurídico, gera omissão, manipulação e injustiças. A pane das redes e a premiação de jornalistas deveria fazer refletir, mas isso dificilmente vai ocorrer. Em plena era tecnológica o retrocesso na “arte de comunicar” é evidente.