Gilberto Jasper
Jornalista/[email protected]
O excesso de poder é prejudicial em qualquer esfera da convivência social. Na família, o centralismo das decisões pode transformar a rotina numa sucessão de imposições pessoais.
No trabalho, o equilíbrio diferencia o chefe do líder, o moderador do déspota, determinando o clima e a consequente qualidade da produção. Ambiente saudável rende ótima produtividade. Arrogância cria cotidiano pesado sem satisfação profissional.
Exercer funções de comando/liderança requer, acima de tudo, bom senso e empatia. Conviver é um exercício desafiador por si só. Coordenar e motivar exige predicados raros que, somados, definem se o sucesso de qualquer empreitada, profissional ou pessoal.
A democracia requer todos estes atributos que são tão importantes quanto raros. Política se confunde facilmente com poder, o que turbina a vaidade, estimula os conflitos e resvala com frequência para a imposição.
No Brasil, a organização política tem nos três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – os pilares que sofrem abalos diários. Intromissões determinadas por anulação de decisões marcam o cotidiano de Brasília de maneira mais enfática a partir de 2018, ano da mais recente eleição presidencial.
Pelo ordenamento constitucional o Senado tem o poder de fiscalizar o Supremo Tribunal Federal para coibir, por exemplo, exageros e desvios de finalidade. Infelizmente inúmeros senadores têm seus interesses pessoais atrelados a mais alta corte porque muitos são réus ou indiciados em processos e investigados.
A morosidade da Justiça é uma velha conhecida, resultado de um cipoal infindável de recursos e da avalanche de processos que nenhuma outra corte suprema do mundo registra. Recentes decisões de condenações sumárias que têm na raiz a emissão de opiniões e posicionamentos pessoais preocupam. É muito tênue a distância entre a alegada afronta à democracia com o direito constitucional da livre manifestação.
Episódios análogos recentes não tiveram a mesma fúria censora das últimas decisões. Liberdade é pressuposto básico da democracia jovem do Brasil que já experimentou momentos amargos de caça às bruxas. Discordar dos poderosos de plantão não pode, jamais, servir de argumento para quebrar o sustentáculo da democracia: a liberdade.