Ausência de comprovante digital pode impedir os participantes das pesquisas de participar de todas as atividades que exijam o passaporte vacinal
Os milhares de cidadãos brasileiros que doaram seus corpos para a pesquisa contra a Covid-19 caíram num verdadeiro limbo. Os voluntários dos chamados ensaios clínicos não estão conseguindo emitir os certificados digitais que comprovam a imunização e sequer fazem parte das estatísticas da população já vacinada. É o caso da farmacêutica bioquímica Tailise Conte Gheno, que trabalha no Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre. Ela participou do ensaio clínico da Coronavac e agora está preocupada com as consequências prática que o problema pode acabar gerando em sua própria vida. “Esse certificado é um direito de toda a população brasileira e, nós, voluntários, também temos esse direito. A gente se doou para a pesquisa e a saúde de todo o mundo e agora não conseguimos emitir o documento. Agora, com as flexibilizações, vão começar a exigir esse documento e nós não temos. Vamos perder o direito de ir e vir se nada for feito”, alertou a bioquímica.
Ao buscar informações junto aos órgãos de saúde, Tailise ouviu que estaria havendo um problema no cadastro dos lotes reservados para os ensaios clínicos de todas as vacinas. “O que nos foi informado é que esse é um problema geral de todos os voluntários que participaram dos ensaios clínicos no Brasil. Desde o ano passado eu já estou vacinada com as duas doses. Se eu quisesse, poderia muito bem ir num posto de saúde e me vacinar novamente. Porque para o Ministério da Saúde eu não estou vacinada. Mas eu acabaria tirando a dose de uma pessoa que não foi imunizada”, ponderou. Além disso, os voluntários não estão sendo contabilizados nas estatísticas oficiais de vacinação.
O marido de Tailise também é farmacêutico bioquímico e trabalha no mesmo grupo hospitalar que a esposa. Diante da falta de respostas das autoridades, Tiago Bottin Coser resolveu entrar em contato com o gabinete do deputado federal Jerônimo Goergen (PP-RS). Coser enviou uma mensagem pelas redes sociais do parlamentar relatando o problema. “Eu também fui voluntário, só que eu acabei recebendo o placebo. Mas é um absurdo o que está acontecendo, uma completa falta de comunicação entre as secretarias estaduais de saúde e o Ministério da Saúde, já que os lotes utilizados nos ensaios clínicos não estão cadastrados no sistema”, criticou.
Assim que foi informado sobre o caso, o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS) encaminhou ofício ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, pedindo informações. Além disso, o parlamentar solicitou uma audiência com o titular da pasta. “Espero que a solução seja rápida e prática. Que se monte uma força-tarefa para atualizar o ConecteSus. Até porque esse será o documento mais importante daqui para frente”, cobrou o parlamentar. Para Jerônimo, os milhares de voluntários brasileiros que participaram das pesquisas para a elaboração das vacinas merecem respeito e um tratamento digno de todas as autoridades públicas.
Por Jerônimo Goergen, Deputado Federal