Gilberto Jasper
Jornalista/[email protected]
Muita gente, como eu, nutre curiosidade por saber o que acontece depois da morte. Dúvida que atravessa gerações, gera muitos conflitos, inspira religiões e as mais diversas teses. Dia deste refleti sobre o que escreveriam a meu respeito em um obituário. Publicados em jornais, servem de homenagem, por isso só destacam as qualidades de quem se foi.
Recentemente deparei com um texto de Leandro Karnal: “Eu farei falta?” que me fez pensar. Dizer que “sim” soa pretensioso. Afirmar que “não” seria baixa autoestima. É um tema instigante que serve de exercício mental e de autocrítica.
À exceção do pagamento dos boletos – que lembram todos os meses que alguém pensa em nós! – não exerço nenhuma função de exclusiva competência. Ajudo no sustento da casa, na proteção da minha família e exerço a solidariedade humana. São atributos obrigatórios que milhões de pessoas conservam.
Diante desta inexorável realidade viver dignamente para ajudar é um de meus eixos no cotidiano. Perdi meu pai aos 52 anos e minha mãe com 83. Foi uma catástrofe, mas segui adiante. O passamento deles forjou de maneira ainda mais intensa os valores que tentaram legar a mim e meus irmãos. São princípios que busco, de forma obsessiva, transmitir a meus filhos.
Além dos preceitos de decência, ética, respeito e importância do trabalho deixarei um bom seguro de vida. Afinal, saudade não paga contas. Pode parecer desumano falar assim, mas já presenciei inúmeros dramas de pós-morte de provedores que é preciso deixar relativo conforto financeiro.
Aos 61 anos, balanços de vida são inevitáveis, inconscientes. O conceito de finitude está presente a cada despertar ao acordar saudável para enfrentar mais um dia de trabalho. Saúde, aliás, conceito cada vez mais valorizado diante de tantas tragédias próximas. À noite, refestelado em uma cama quentinha, agradeço o privilégio de chegar até aqui. Dou graças pela família, pelos amigos, pelo emprego, segurança, saúde e conforto. São conquistas que milhões almejam, mas pouquíssimos atingem por diversos fatores.
Depois de refletir sobre o tema que inspirou esta crônica – “Eu farei falta” – resolvi mudar. E pensar na falta que a vida fará. E isto tem sido combustível para seguir adiante. Com dignidade, respeito e gratidão.