Gilberto Jasper
Jornalista/[email protected]
Um dos passatempos divertidos nas visitas à minha mãe, em Arroio do Meio, era correr ao armário para buscar caixas de sapato e de camisa lotadas de fotos. Há quase três anos ela nos deixou, mas com frequência recordo do pós-almoço quando esparramávamos as imagens no sofá da sala.
Quando a dona Gerti Jasper partiu, eu e minha irmã dividimos as fotos para curtir individualmente o passado. As máquinas fotográficas populares da minha infância/adolescência possuíam poucos recursos. Equipamentos mais sofisticados tinham preços proibitivos. Muitos registros foram marcados pela baixa qualidade, quase sempre com fotos “tremidas”.
Nasci na colônia, onde o hábito de fotografar era o coroamento de festividades ou eventos especiais, como aniversários, casamentos e grandes encontros familiares em geral. Eram datas cercadas de muita excitação por parte dos envolvidos.
Os flagrantes feitos de maneira informal eram raros. Os personagens se preparavam com esmero para o momento. Mulheres ajeitavam o cabelo, homens penteavam os bigodes e as roupas eram minuciosamente examinadas.
Cumprido o ritual da feitura da foto, outro momento de grande expectativa era o período entre a entrega do filme na loja, a revelação e a entrega do envelope com as imagens. Eram longos dias de espera encurtados com o tempo pelos avanços tecnológicos.
Na adolescência a ansiedade levava a comprar “filmes com 36 poses”. Por vezes, motivos bizarros ou desinteressantes eram alvo da foto só para “terminar filme”. Não raro viam-se pessoas com a cabeça ou os pés “cortados” fruto da pressa ou de movimento brusco das personagens.
Hoje, fotografar virou rotina, especialmente entre os jovens. Ao mesmo tempo que nunca se fotografou tanto, jamais revemos tão pouco os registros. Carregamos milhares de fotos no celular ou computador, mas raramente curtimos o momento registrado.
Antigamente a expressão “ficar bem na foto” fazia jus ao significado literal. Por isso, uma boa imagem ficava eternizada em porta-retratos. Eram tão preciosos que serviam de adorno de decoração em salas ou na entrada da casa como gesto de boas vindas. Como tantas outras coisas, ao longo do tempo as fotos foram banalizadas e perderam o encanto. Como tantos hábitos antigos, subvertidos pela “informalidade” que invadiu nossas vidas.