qui, 21 de novembro de 2024

Variedades Digital | 16 e 17.11.24

DOS FAVORITOS: O PODEROSO CHEFÃO

No meu primeiro texto para o Jornal eu avisei que nesta coluna eu falaria apenas sobre os filmes que eu gosto, e que não teceria críticas acerca dos filmes. Foi o que eu me propus a produzir e é o que tenho buscado a cada texto. Isso porque, nos meus textos, diferentemente da crítica, que propõe ideias além do filme, a partir da proposta apresentada, meus textos são mais pessoais e refletem uma simples análise do que o filme se mostrou pra mim e tento apenas justificar, mediante essa análise, como o filme me impactou. Pensando sobre isso e pensando que já completei um ano escrevendo para o Jornal, percebi que falei pouco sobre os meus grandes filmes favoritos. Meu primeiro filme foi Forrest Gump que ocupa um lugar muito valioso na minha lista. A emoção que este filme me trouxe é inesquecível e sei que ao revê-lo, poderei me lembrar de todas as sensações que ele me trouxe. Assim, decidi ver a minha lista de favoritos e selecionei um que, figura como um dos melhores que eu já vi: O Poderoso Chefão.

Don Vito Corleone (Marlon Brando) é o chefe de uma “família” de Nova York e está realizado, pois sua filha, está se casando. Porém, durante a festa, Don Corleone é interpelado por um convidado pedindo “justiça”, vingança na verdade contra membros de uma quadrilha, que espancaram barbaramente sua filha e Don Corleone promete que os homens serão severamente castigados. Do lado de fora, no meio da festa, está o terceiro filho de Vito, Michael (Al Pacino), um capitão da marinha muito condecorado que há pouco voltou da 2ª Guerra Mundial. Os verdadeiros problemas começam para Vito quando Sollozzo, um gângster que tem apoio de uma família rival, em uma reunião com Vito e outros, conta para a família que ele pretende estabelecer um grande esquema de vendas de narcóticos em Nova York, mas exige permissão e proteção política para agir. Don Corleone odeia esta ideia, pois está satisfeito em operar com jogo, mulheres e proteção, mas isto será apenas a ponta do iceberg de uma mortal luta entre as “famílias”.
Parece clichê, já que esse filme sempre figurou nas listas de melhores filmes da história. Não é para menos. Francis Ford Coppola ousou e trouxe a adaptação do livro de Mario Puzo a um nível de excelência grandioso. O filme carrega uma importância tremenda para o cinema mundial e até hoje é referência de estudo para linguagem cinematográfica, levando em consideração todos os elementos da linguagem: roteiro, atuação, trilha sonora, fotografia e direção. Trata-se de um grande exemplo de construção de narrativa. O filme, por si só, já apresenta dificuldades para que se construa uma dramaturgia aceitável: como não romantizar a atitude desses bandidos e glorificar sua violência? Isso é muito difícil! Justamente porque a história não é contada pelo ponto de vista de quem sofre com as atitudes dos mafiosos, mas pela própria visão deles. Coppola consegue. As atitudes deles não são glorificadas. Trata-se sim de um filme que expõe a imposição do patriarcado, que a época não era uma questão a ser repensada e apesar disso, não nos identificamos com essas atitudes, sequer elas são justificadas, mas quando trata-se de defender àqueles que mais amamos parece possível enxergar um familiar ali representado, e esse equilíbrio sutil torna o filme tão bem construído.

Com um elenco poderoso e produção impecável, ainda mais levando em conta que se trata de um filme de quase cinquenta anos, visto que foi lançado em 1972, o filme impacta pela violência e crueldade mostrada, mas equilibra muito bem com o contexto familiar apresentado, ainda mais tratando-se de um filme da máfia. Máfia, inclusive, é uma palavra que nunca é dita durante o filme e, apesar da associação ficar implícita, tudo se trata de “negócios”. Isso é uma das coisas mais impressionantes no filme. Não apenas pela sutileza em pensar em não expor esse tipo de conduta, mas justamente para equilibrar a conduta cruel dos bandidos, com as pessoas que eles são em seu contexto social, como pais de família, responsáveis pelo cuidado e manutenção da casa, bem como dos negócios. Outra coisa que me vem à cabeça, sempre que penso esse filme, é a trilha sonora, eu quase consigo ouvir as composições de tão belas e equilibradas com o filme. Trata-se de um filme poderoso, forte e muito bem construído.

Notícias do dia por Germano Rigotto

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