Buenas,
Muitas vezes ouvi que o brasileiro deveria ser estudado, inclusive, recomendações de que só a NASA poderia assumir tarefa tão árdua. Eu cá de minha parte penso que nem eles teriam tecnologia suficiente para compreender ser tão diferenciado da média mundial. Meus leitores mais dedicados irão lembrar que noutra crônica informei que em 2020 a mídia ianque divulgou que pilotos da força aérea americana tiveram contato com objetos voadores não identificados, os chamados OVNIs.
Pois agora irei além dessa informação. Há informes extremamente secretos que só circularam na deep web (aquela que nem o google muito menos os chineses têm controle) e no grupo da minha família, postado por um tio que mora no interior da Atafona que, por sua vez, recebeu a informação de um primo distante que mora no interior do Texas: os ETs já fizeram um estudo sobre os brasileiros. E não venho só com a manchete, tenho uma cópia legítima desse estudo. Leiam abaixo, com exclusividade.
“Chegamos no que parecia ser a capital deste imenso país, afinal, está junto ao litoral, coberta de verde, montanhas belíssimas, mar azul, enseadas e portos navegáveis. Segundo nosso monitoramento, aqui foi onde começou tudo. Usamos nossa tecnologia para imitar as feições e vestimentas desse povo, tentando parecer com eles, para não chamar a atenção.
Fizemos o primeiro contato com um humanóide típico do sexo masculino dessa tão bela nação. Ele estava de bermuda, chinelos e um palito no canto da boca, escorado em uma esquina, pensando na vida, aparentando ser um intelectual local. Pedimos, educadamente: Queremos falar com vosso líder! Eis que ele me olhou de cima a baixo, pensou um instante, equilibrando o palito nos lábios e disse: Olha só, “mermão”, não é fácil entrar em Bangu I, todos nossos líderes estão lá, trancafiados.
Perguntei se Bangu era o palácio Real e recebi uma sonora risada como aprovação, com o palito ainda entredentes, seguido da frase: cê não é daqui, não é, “mermão”? Fui obrigado a confirmar a pergunta, não ampliando a resposta para não entregar nossa origem.
Vou te facilitar: o grande mandatário é daqui, mas está lá no planalto central, longe do povão, mas te dou as coordenadas. Segue rumo a Brasília, lá está o todo poderoso. Por que ele não governa daqui, perguntei, o lugar mais bonito do país, onde tudo começou nessa nação? Questionei com ar de espanto. Ao que recebi uma única e incompreensível palavra como resposta: treta! Muito do que ele me diz terei que pesquisar depois o significado.
Questiono então porquê, mesmo diante de uma pandemia, todos estão nas ruas, bebendo, rindo, se divertindo, mesmo diante de muitas mortes por uma doença que não tem remédio (não comento com ele, mas nós já fomos vacinados antes de embarcar na nave, mesmo assim, mantemos o uso da máscara, para não proliferar o vírus). Ele me diz que isso não é problema, é só uma “gripezinha” e que não é maricas, enquanto gira o palito de um canto a outro da boca, simulando um sorriso debochado.
Diante desses argumentos, pergunto sobre os caminhos apresentados pelos líderes dessa grande nação diante desse grave problema, como está amparando a população. “Mermão”, começa ele, recebi hoje mesmo minha cota de remédios preventivos, tomei todos na saída, tô tinindo! Até ozônioterapia já fiz, que troço doido. Mas isso de gripezinha não me afeta, sempre fui atleta, jogo meu futevôlei, tomo meus “mé” e uns chopinhos, “Mermão”, nada me assusta, comenta enquanto esfrega uma barriga saliente que tenta escapar por entre os botões da camisa esturricada.
Mantendo o prumo do questionário pré-estabelecido, pergunto sobre o futuro, o que ele espera que aconteça, o que ele fará para melhorar a situação daquela cidade e do seu país. “Mermão”, eu não pretendo fazer muito não, espero deus “provê”. Já tenho garantido minha bolsa-auxílio, mesmo se trocarem o grande líder, tem sido assim há décadas. As três crianças lá de casa estão ali na esquina garantindo uns “milréis” limpando parabrisas, enquanto a patroa já espera o quarto bacurizinho, ou seja, vai aumentar a bolsa. Por que vou me preocupar em fazer algo? Deus por nós, quem será contra nós, “Mermão”?
Como faço uma pesquisa, não posso emitir juízo de valor diante das sábias palavras desse intelectual que pude entrevistar. Encerrei por aqui e evitei viajar até Brasília, preciso de orientação de meus superiores…”
E encerrou por aqui o relato encontrado na deep web que recebi com exclusividade no grupo da família. Não sabemos ainda a sequência desse relato, se ele voltou ao Brasil, foi até Brasília, encontrou o grande líder, entrevistou outros espécimes ou desistiu de vez diante desse ser tão peculiar chamado brasileiro? Pode ser que tenha ido, mas ainda não foi postado pelos primo da Atafona.
Ou, ainda, eles podem ter desistido do estudo, mesmo com toda a tecnologia disponível para interpretação desse povo tão sui generis, para usar uma expressão latina. Aliás, essa expressão resume muito do brasileiro, o único do seu gênero nesse planeta azul, o terceiro do sistema solar que habitamos. Quem sabe, quando conseguir o restante da pesquisa, eu descubra que somos únicos no Universo. Olha que privilégio!