Há cerca de dois anos comecei a ser um estudante mais assíduo de cinema, porém a minha admiração e paixão pela sétima arte é muito mais longa, com mais ou menos 15 anos apreciando os mais diversos filmes. Percebi que, por ser uma arte, a admiração é subjetiva e que o gosto reflete no impacto que a obra causou mediante sua proposta. A partir do momento que passei a dedicar o meu tempo, não apenas para o lazer, mas para os estudos em conjunto, percebi coisas novas e tive acesso a outros tipos de filme e outros diretores. Diretores que, mediante seus filmes, fizeram com que eu entendesse o porquê de eu amar tanto essa arte. O principal deles é Alfred Hitchcock. Ele é considerado por muitos críticos o maior diretor de todos os tempos e esse é um posto difícil de alcançar, mas ele, com sua genialidade faz jus. Já comentei sobre Hitchcock e sobre alguns de seus filmes, suas características e algumas impressões que tive em um outro texto para o Jornal, mas ainda não tinha trazido um texto sobre um filme dele.
Disque M para Matar é um filme do ano de 1954, com atuações memoráveis de Ray Milland e Grace Kelly. A premissa do filme é a de um ex-tenista profissional que resolve matar sua mulher, para poder herdar seu dinheiro. Trata-se também de uma vingança por ela ter tido um relacionamento, há um tempo atrás, com um escritor que vivia nos Estados Unidos, mas que no momento está na cidade. Para atingir seu objetivo, ele chantageia um colega de faculdade para estrangulá-la, dando a entender que o crime teria sido cometido por um ladrão. A sequência de acontecimentos do filme formam um thriller complexo e muito bem desenvolvido. Os personagens se tornam cativantes e intrigantes no decorrer do longa e fazem com que o espectador se torne peça do quebra-cabeças montado por Hitchcock, ansiando pelo final do filme.
Esse filme é um de seus trabalhos mais bem avaliados e que registra em tela uma das maiores virtudes de Alfred Hitchcock: fazer muito, com muito pouco. O filme conta com apenas um local em mais de 90% de toda a sua história. Com apenas quatro personagens centrais, o filme se desenvolve mediante a articulação dos diálogos entre essas pessoas e por meio da dramaturgia que os personagens carregam. É incrível perceber, durante a experiência, que você está tomado pela história que aqueles personagens enfrentam e perplexo no aguardo da resolução do conflito. E eu falo que é uma virtude de Hitchcock, porque isso só é possível pelas escolhas que ele, como diretor, fez para tornar o filme interessante, pois nas mãos de outra pessoa, talvez esse filme jamais fosse tão bom.
O filme é simples e complexo ao mesmo tempo. Simples porque conta com uma premissa bastante acessível. Gravado praticamente todo em apenas uma locação e com poucos personagens, a exigência não estava nos elementos que compõem o filme, mas em fazer deles, elementos interessantes no decorrer de seu tempo em tela. Como atrair a atenção do público para um filme, nessas condições? Então entra a complexidade de um filme desses e Hitchcock impõe toda a sua genialidade. Há momentos específicos, em que a forma como o diretor filma causa ansiedade, medo e apreensão. Sensações difíceis de causar. Há momentos em que você está tão íntimo daqueles personagens e daquela história, que está torcendo para que o desfecho aconteça logo. E essa aura de suspense criada, com diálogos incrivelmente bem construídos, movimentos de câmera muito sutis e calculados, faz com que o espectador perceba, ao fim do filme, que está diante de uma obra-prima.