O filme é baseado na história em quadrinhos de Alan Morre e Dave Gibbons. No filme, um grupo de vigilantes se reúne, após anos fora de atuação, para investigar uma possível conspiração contra a sua classe, ao mesmo tempo que precisam evitar um conflito bélico de proporções nunca antes vista. Dentre os personagens, todos com habilidades diferentes, mas ainda humanos, há Rorschach, o mais violento dos integrantes, e que fica intrigado com o assassinato de um membro da antiga equipe. Este vigilante é implacável e os bandidos que ele encontra sofrem muito em suas mãos. O nome faz referência ao psicanalista criador do teste do borrão de tinta, por conta da composição de sua máscara, que dá a impressão de estar sempre manchada e em constante movimento. Seus momentos são muito interessantes, pois apesar de suas cenas serem graficamente violentas, o subtexto de seus ideais são sempre presentes.
O subtexto é deveras importante no filme, pois a distopia da história traz exatamente isso, o questionamento sobre as decisões dos heróis e no que elas estão atreladas. Penso que é preciso ter coragem para realizar esse filme. Não é um filme comum de super-herói. O clichê da luta do bem contra o mal. A ideia de que o bem triunfará sobre o mal e coisas assim. Não. É uma crítica, na verdade, ao estilo de vida americano. E como esse estilo de vida subjuga as pessoas e no caso do filme, os heróis. Dr. Manhattam é considerado um Deus. Ele tem a capacidade de transformar a matéria no que quiser, além criar cópias de si mesmo, viajar no tempo. Mesmo assim, ele pouco ajuda os vigilantes na resolução dos problemas. Isso porque é um personagem que considera ter perdido sua “humanidade” e que pouco se importa com as decisões que os humanos tomam. Seria este personagem a representação do que inventamos como um mito? Que seja uma espécie de salvador, quando na verdade ele pouco se importa conosco?
Quem vigia os vigilantes? Esta é uma pergunta deixada pela história e, no decorrer do filme, fica mais claro o que essa frase significa. Zack Snyder dirige muito bem e se vale da imensa quantidade de cores que gosta de usar no filme, bem como movimentos de câmera que trazem uma certa contemplação em equilíbrio às cenas de ação e às cenas mais gráficas. Assim, o diretor consegue transmitir as ideias propostas na história e no subtexto. Quem conhece a história em quadrinhos não se surpreende com o rumo do filme, mesmo assim, o filme consegue ser único em sua proposta, uma vez que utiliza, por diversas vezes, de uma linguagem bastante original.
Diferente do que se espera de um filme de heróis, este não é para qualquer público. A violência é escancarada e, em certos momentos, os mais sensíveis terão que desviar o olhar. Mas o que impacta realmente é a história. A história trazida por Alan Moore é a iminência do juízo final que culminará na terceira guerra mundial e o que os heróis decidem fazer para evitar esse conflito causará um efeito ético/moral no espectador. E isso é interessante, pois ocorre em vários momentos do filme. Por sorte, Watchmen também se tornou uma minissérie, produzida pela HBO, totalmente original, pois se passa na mesma distopia, porém 34 anos após os eventos da HQ. Vencedora de diversos prêmios Emmy esse ano, inclusive para Melhor Minissérie. A história acabou por ganhar uma expansão à altura do que já havia sido criado. Seja a história em quadrinhos, seja o filme, seja a Minissérie, a distopia de Watchmen fará o espectador pensar em suas próprias decisões.