O Estado ainda contabiliza os prejuízos e estragos provocados pela estiagem histórica que enfrentou no final do ano passado até a metade deste ano. Rios praticamente secos em muitas regiões, lavouras de diversas culturas foram prejudicadas, açudes e mananciais ficaram complemente vazios em meio à paisagem desértica. Prejuízos milionários para o setor primário, sem falar no racionamento e falta de água para o consumo humano e de animais. O período de estiagem durou de dezembro de 2019 a maio deste ano impactando diretamente na safra de grãos, onde culturas como a soja foram prejudicadas assim como o milho, pecuária de corte e de leite entre outras.
E este quadro, que é bastante preocupante, pode piorar, segundo informações divulgadas pelos principais meteorologistas já alertam que nos próximos meses teremos influência do fenômeno La Niña que trará novamente um período de estiagem, como explica Luiz Fernando Nachtigall, da Metsul Meteorologia. “Nas próximas semanas teremos algumas precipitações na Região da Fronteira Oeste e Campanha, mas elas não serão suficientes para recuperar a umidade do solo e a necessidade urgente de água para o plantio da safra, mas qualquer precipitação é bem-vinda. Até não se descarta chuva forte em alguns pontos de Livramento, mas de maneira irregular e muito mal distribuída. O evento de La Niña, no Oceano Pacifico equatorial, que começou fraco em agosto já está com intensidade moderada e deve atingir o estado com forte intensidade ao longo desta primavera e do verão. O que as projeções nos indicam e podemos afirmar é que o episódio de La Niña irá prosseguir nos próximos meses com forte tendência de se intensificar e atingir o seu pico”.
Conforme Nachtigall, essa situação poderá agravar o quadro no estado, que já sofre com o déficit hídrico em algumas regiões podendo intensificar a estiagem e evoluir até para um período de seca. “Nós já estamos considerando que o fenômeno irá impactar de maneira negativa na safra de 2020/2021, aqui no sul do Brasil, com perda de produtividade em algumas áreas de maneira muito significativa”.
A reportagem do Jornal A Plateia conversou também com o engenheiro agrônomo e técnico da Secretaria de Agricultura, Alex Fabiano Gomes, sobre as medidas que os produtores podem adotar para diminuir esses impactos. Segundo ele, plantar pastagens de verão, folgar o campo reduzindo o número de animais, suplementação, maior aproveitamento forrageiro e principalmente manutenção, limpeza e construção de açudes.
“Existem algumas estratégias que os produtores podem adotar apesar do curto período que vem pela frente, porque geralmente essas estratégias precisam ser tomadas com mais tempo e planejamento. Nós já estamos enfrentando uma situação bem complicada onde tivemos um inverno bem severo, um verão seco e um outono relativamente seco. A primeira dica é a adequação de carga animal, onde o produtor deve identificar quais animais ele deve se desfazer ou readequar em outras áreas. Outro fator importante são as suplementações estratégicas dependendo da necessidade do produtor, se ele quer suplementar gado de cria ou vacas com escore corporal para não ter um índice de produção muito afetado. Existe outro tipo de suplementação que seria para salvar os animais e mantê-los vivos. Isso deve ser pensado em se tratando de um período de seca mais severa. Já sobre as pastagens o produtor deve observar quais as plantas são mais resistentes à seca, no caso o sorgo para pastejo e o capim sudão que são espécies mais resistentes. Quanto às lavouras de verão, no caso dos pequenos produtores que vão plantar milho por exemplo, pode-se reduzir a área. Quando a gente fala em deficiência hídrica têm coisas que devem ser feitas anteriormente para prevenir e mitigar os danos, como a questão da irrigação e a adequação do manejo correto da carga animal no campo nativo. Porque as propriedades que realizam esses cuidados, geralmente, ficam muito menos suscetíveis ao problema causado pelo déficit hídrico” recomenda.