Segundo o jornalista Cleiton Evandro dos Santos especialista em mercados agropecuários e que acompanha a movimentação dos insetos desde o Paraguai, seria necessário que os gafanhotos mudassem a direção, o que não pode ser descartado
Nos últimos dias, as redes sociais foram tomadas por vídeos, reportagens e relatos de uma enorme infestação de gafanhotos devastando plantações na Argentina. As imagens são realmente impressionantes, com bilhões de insetos que formam uma verdadeira nuvem no céu daquele país. O Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Agro-Alimentar (SENASA), da Argentina, monitora o deslocamento dos insetos que são provenientes do Paraguai desde o dia 28 de maio.
A praga avançou da província argentina de Formosa, onde existem muitos produtores de mandioca, milho e cana de açúcar e do Chaco, até chegar finalmente à província de Santa Fé. Agora ruma para Entre Rios e Córdoba. Há alerta na província de Corrientes, que faz fronteira com o Oeste do Rio Grande do Sul, e o território provincial, incluindo a fronteira gaúcha, foi colocada em estado de atenção pela SENASA.


A reportagem do Jornal A Plateia conversou com exclusividade com o jornalista Cleiton Evandro dos Santos, especialista em agronegócios, que em virtude do seu trabalho acompanha essa situação há vários meses, desde que caso similar ocorreu no Paraguai, quase na fronteira com o Mato Grosso do Sul. Para ele, a possibilidade dos insetos alcançarem o Brasil é um pouco remota e precisaria de uma combinação de vários fatores climáticos. Segundo Santos, analisando a trajetória da massa de insetos desde a sua origem, ao norte da América do Sul, é mais provável que os insetos alcancem a província de Buenos Aires, num primeiro momento.
“Se mudarem a direção, chegariam ao Uruguai, antes de chegar ao Brasil”, avisa. Para ele, o ingresso na Província de Buenos Aires é positivo, uma vez que além de ter o Uruguai como obstáculo, terá também o Rio da Prata.
“Por ora, os gafanhotos são aquele meteoro que os especialistas dizem que passa raspando pela Terra, mas está a zilhões de anos-luz, mas é preciso seguir monitorando”, ilustra.
A nuvem de gafanhotos na Argentina – que já passou pelo Paraguai, Formosa, Chaco, Santa Fé e Corrientes (província que faz fronteira com o Oeste do Rio Grande do Sul, segundo a imprensa local noticia hoje, “passou por Corrientes e segue para Entre Ríos, também por causa do vento norte.
“Ora, se a gente observar com o cuidado necessário, a conclusão é de que mantendo esse traçado, a tendência é de que chegue à Província de Buenos Aires (com maior probabilidade) ou ao Uruguai, e não ao Brasil, num primeiro momento”, acrescenta.
Pela atual trajetória dos insetos o Uruguai seria alcançado primeiramente. – Se chegarem à Província buenairense, além do Rio Uruguai que é obstáculo atualmente, haverá outro grande obstáculo que é o Rio da Prata. Então, a tendência mais lógica é de que ingressem em direção à La Pampa, Río Negro, Chubut e daí por diante, em que pese a queda das temperaturas nesta direção.
Como está chegando uma frente fria no RS, a natureza também está se encarregando de impor um obstáculo a mais entre o Brasil e os insetos.
No campo da especulação, ou possibilidade mais remota, os insetos podem mudar a direção e, sob condições climáticas favoráveis, o caminho de entrada em território brasileiro seria pela extensão de fronteira com o Uruguai. – Se “cambiarem” de direção ainda em Entre Ríos, poderão subir pelo Uruguai. E, então, sim, entram no RS. Mas, daqui pra frente é pura especulação. Pela trajetória e ângulo, poderia, sim, ser um pouco abaixo de Santana do Livramento, em direção a Bagé. Ou, dependendo das condições climáticas, por Jaguarão ou Chuí. “Mas, é preciso monitorar. O risco existe, mas a probabilidade, neste momento, é muito pequena. Tomara que não se confirme”, acrescentou.
No Rio Grande do Sul, se chegassem por este caminho, as “langostas” poderiam seguir dois rumos. Um seria pela planície costeira externa – onde tendem a ter mais dificuldades pela limitação alimentar e geográfica entre o Atlântico e a Lagoa dos Patos, o que seria mais remoto e tenderia a reduzir seu potencial, mas se entram pela Campanha, podem chegar a qualquer lugar do Sul do Brasil, inclusive voltar para a Argentina. Mas, a realidade é que até agora o alarde é desproporcional.
É importante frisar que, apesar de assustador, o movimento migratório dos gafanhotos não implica em danos aos animais ou às pessoas, apenas aos vegetais. “Mas, estamos com baixa oferta de grãos neste momento”, na transição entre a safra de verão e a de inverno. Ainda segundo Santos, as nuvens de gafanhotos são formadas a partir do desequilíbrio ambiental que favorece a ampliação do ciclo reprodutivo e multiplicação dos insetos, e foram potencializadas pela seca que atingiu a América do Sul nesta temporada, em especial o Paraguai a Argentina, o Uruguai e o Sul do Brasil. “E, com 10 quilômetros quadrados de tamanho, ela não encontra predadores suficientes”. Em Formosa a nuvem separou-se em duas, com uma de menores proporções atacando lavouras de algodão e milho em alguns municípios.
Infestação na Argentina
O coordenador do programa nacional de gafanhotos do órgão, Héctor Medina, afirmou que a nuvem se moveu quase 100 quilômetros em um dia devido às altas temperaturas e ao vento.
O especialista enfatizou que é um gafanhoto sul-americano. Para ter uma idéia dos danos que podem causar, explicou que uma manga das características que foram monitoradas em um quilômetro quadrado tem até 40 milhões de insetos.
Uma manga de um quilômetro quadrado pode comer o mesmo que 35.000 pessoas ou cerca de 2.000 vacas por dia, afetando principalmente pastagens e pastagens”, explicou Medina.
A extensão da nuvem detectada pode chegar a 10 quilômetros quadrados. Medina explicou: “Essa invasão pela qual estamos passando neste momento não é uma novidade, pois, nos anos anteriores, tivemos uma situação semelhante; era previsível que, em 2020, esse cenário se repetisse, estamos tentando acompanhar a situação”.
Por Matias Moura – [email protected]
Confira a entrevista de uma especialista do – Instituto Nacional de Tecnología Agropecuaria da Argentina.