Segundo os representantes da Associação de Moradores da região, ninguém da comunidade foi ouvido sobre o tema. Presidência do Clube diz que todo o processo de implantação é legalizado.
Imagine você estar em casa em plena tarde de domingo, descansando depois de uma semana de muito trabalho e ser acordado a tiros de fuzil sem saber o que está acontecendo. Isso até pode ser uma cena comum em cidades grandes, mas em Livramento não. Pois é justamente esse o relato dos moradores da região conhecida como Baixada da Serra situada próxima a piscina do Clube Santa Rita, depois que o Clube de Tiro Kratos se instalou no local onde funcionava uma antiga pedreira do município.
De um lado os moradores dizem que não foram consultados em nenhum momento, por ninguém, de outro está a presidência do clube que diz que todo o processo foi legalizado com votação inclusive na Câmara de Vereadores onde o projeto de implantação foi votado por unanimidade pelos 17 representantes da casa legislativa, além é claro do munícipio fazer a cedência de forma legal da área da antiga pedreira aos associados do clube para sua implantação.
Segundo o presidente da associação de moradores Ricardo Romão da Rosa, a área é considerada urbana onde vivem aproximadamente 70 famílias que procuraram aquela região para morar por conta da paz e tranquilidade que ela proporciona. “Essa questão é muito complicada, aqui é uma área urbana, a minha casa fica a 150 metros do clube e num domingo fomos acordados com os tiros de fuzil. Não somos contra a prática do esporte, mas em um local mais afastado que não vá prejudicar a tranquilidade de ninguém. Sou atirador cadastrado como CAC (atirador, caçador, colecionador) e aí no clube eles estão atirando com calibre restrito. São disparos a céu aberto e como aqui é uma região baixa o barulho ecoa muito longe. Além do mais o clube está liberado de segunda a segunda. Imagina em um dia de competição. E isso a população daqui não quer” disse.
Ricardo destaca que os moradores não têm nada contra o clube e seus associados, que a única questão é o barulho ocasionado pelos disparos que são a céu aberto. “Parece que estou contra a nossa classe, mas não. Eu, como atirador gostaria de ter um clube, perto de casa, mas não nessas condições. Não consigo aceitar uma coisa dessas, se eu sei que está prejudicando alguém. Por isso, em nome dos moradores estou pedindo o bom senso dos políticos, das polícias e forças de segurança para reverem isso aí. Para mim, como atirador, ter competições estaduais próximas de casa seria muito interessante desde que não prejudicasse a tranquilidade de ninguém. Não temos nada com o clube, que ele siga crescendo, mas do jeito correto.
Família morando na área do clube
Outra situação que precisa ser resolvida é o caso da família de Luiz Aberto Flores Rodrigues e Dionara Carrion Rodrigues, que mora há mais de 10 anos na área da antiga pedreira, que hoje pertence ao clube de tiro. Segundo Dionara, o seu marido é ex-funcionário da Prefeitura e foi colocado lá para cuidar do maquinário da antiga pedreira. “A gente mora aqui todo esse tempo, e agora o pessoal do clube quer que a gente saia. Eles, inclusive, foram para a rede social nos chamar de invasores. Mas nós não somos, moramos aqui há mais de 10 anos, hoje meu marido está doente e é do grupo de risco. A gente espera que essa situação se resolva” desabafou
A reportagem do Jornal A Plateia entrou em contato com o presidente do Clube de Tiro Kratos, Nelson Carvalho que em nota pontuou as seguintes considerações: A área cedida é do município, a única autorização que precisávamos era a da Prefeitura e foi cedida por lei municipal.
O clube foi considerado de utilidade pública e possui todos os alvarás, além de estar apostilado no Exército Brasileiro. Possuímos projetos feitos por engenheiros com capacitação nesta área. A área passou por vários estudos incluindo Meio Ambiente, Perícia do Departamento de Armas Munições e Explosivos do Estado do Rio grande do Sul e Corpo de Bombeiros.
Segundo o presidente, o interesse que a área fosse cedida para o clube foi demonstrada por todas as forças de segurança e documentado: Polícia civil, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Brigada Militar, Procuradoria do Estado, Receita federal e Procuradoria Federal.
O clube de tiro e caça Kratos é uma entidade considerada de utilidade pública, sem fins lucrativos, que é fiscalizado pelo Exército e pelo Departamento de Armas, Munições e Explosivos e tem por objetivo incentivar o esporte e disponibilizar um local adequado para o aperfeiçoamento das forças de segurança em nível municipal e estadual.
O clube possui todos as licenças e alvarás necessários para o funcionamento respeitando todas as regras de segurança, com muito rigor, todos os sócios do clube são pessoas capacitadas e com certificado de registro (CR) expedido pelo exército, também são idôneas e a maioria empresários, produtores rurais, médicos e outros.
Se foi consultado a opinião dos moradores
“Nós, moradores de Santana do Livramento, elegemos os vereadores que são a voz do povo para nos representar nestas ocasiões assim como avaliar e analisar os projetos que tragam maior benefícios para nossa cidade e, assim, aprovar ou não. O nosso projeto tramitou mais de um ano por várias secretarias e, por fim, foi aprovado por unanimidade na Câmara de Vereadores.
Acho que não poderia ser diferente, pois, se analisarmos o projeto e levarmos em conta os inúmeros benefícios que trará ao município como novas oportunidades de empregos e movimentando também a economia como, por exemplo, as redes hoteleiras, restaurantes, turismo etc., o poder público municipal por sua vez valorizou uma área que estava há mais de 20 anos abandonada. Podem ter certeza que o clube só irá trazer benefícios a nossa cidade”.
O clube terá o funcionamento em horários comerciais salvo em algumas ocasiões especiais como, por exemplo, competições e alguns treinamentos das forças de segurança.
Com a palavra o Vereador
O Jornal A Plateia conversou com o vereador Antônio Zenoir, responsável por encaminhar o projeto para votação, e segundo ele, todo o processo foi feito dentro da forma legal até a sua aprovação e encaminhamento ao Executivo. “Foi-nos apresentado toda a documentação e aquela área estava qualificada e então encaminhamos o projeto, pois aquela área estava abandonada, onde havia apenas um ex-funcionário aposentado da Prefeitura morando e que cuidava aquela área. O projeto ficou dois anos em tramitação e ninguém se manifestou. Então não tinha como a gente saber que os moradores não queriam. Antes, ninguém me procurou. Somente após a divulgação da área, inclusive sofri ameaças e ofensas no Facebook por algumas pessoas. Eu apenas encaminhei o projeto e até a sua aprovação não havia restrição nenhuma e foi aprovado pelos 17 vereadores e pelo Executivo. Obedecendo todos os termos e critérios técnicos” disse.
Matias Moura
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