Neste período, quem segue a religião islâmica concentra-se em reavaliar hábitos, pensamentos e valores
Regido pela lua, o nono mês do calendário muçulmano é considerado sagrado por quem segue a doutrina. Nele está compreendido o período entre 29 e 30 dias onde acontece o Ramadan, uma época em que aqueles que seguem o islamismo, praticam, entre outras coisas, jejum completo entre o nascer e o pôr do sol.
Neste ano, o Ramadan deve iniciar na próxima quinta-feira, dia 23, estendendo-se até o sábado, 23 de maio. Como Sant’Ana do Livramento abriga uma grande parcela da comunidade árabe-islâmica radicada no Rio Grande do Sul, a reportagem do jornal A Plateia ouviu um dos fiéis que deve participar da celebração na próxima semana.
O santanense Raed Shweiki é filho de pais palestinos e conta que o Ramadan vai muito além de apenas jejuar. “Esse período é um período de jejum completo. Tu não pode ingerir nem sólidos, nem líquidos durante o período que vai entre o nascer e o pôr do sol. […] Só que ele é mais do que isso. É um período de meditação”, comenta.
Durante os 30 dias, Shweiki conta que a atmosfera é de reflexão e auto avaliação. “A gente começa a repensar os conceitos, a materialidade das coisas, a humanidade. Tudo isso é feito durante o Ramadan, então não é somente um período onde tu fica sem comer e sem tomar água, é um período de tu repensar a tua existência. De tu começar a ver qual é a intenção da tua vida”.
Em busca de igualdade
É importante lembrar que, além de religioso, o Ramadan também pode ser considerado um movimento social. Isso porque o Alcorão, livro sagrado que rege o Islã, traz em um trecho de suas escrituras um momento em que o profeta Mohammed passou um mês sem se alimentar.
Desta forma, praticar o jejum completo ressalta a ideia de igualdade, pois de acordo com a religião, durante o Ramadan, independentemente da classe social, todos os muçulmanos enfrentam as mesmas dificuldades frente à fome. “Esse jejum é o período de tu te identificar com as pessoas que não têm aquele alimento. Tu passa fome, tu começa a ver que a necessidade do outro é a mesma tua. A partir disso, tu começa a repensar a tua atitude com o próximo”, afirma Shweiki.
Em busca de igualdade
Por se tratar de uma tradição distante da realidade brasileira, para simplificar e explicar de uma maneira mais prática o que o Ramadan representa para os muçulmanos, Shweiki traça um paralelo com o Natal. Assim como em dezembro, pelo menos no Ocidente, as famílias se reúnem, trocam presentes e aguardam com grande expectativa a data.
Entretanto, por conta da pandemia do novo Coronavírus, neste ano algumas mudanças devem ocorrer na celebração. “As famílias se dão presentes, vão se visitar, tem os doces, jantares que, infelizmente, neste ano não devem acontecer pela questão do isolamento social. […] Esse ano vai ser atípico, aqui (em Livramento) e no mundo”, pondera.
As medidas de segurança devem interferir inclusive nas orações. “Após o pôr do sol sempre há uma reunião na mesquita. Neste ano não vai haver. Está proibido. Portanto, vai ser algo inédito para nós. […] Está se cogitando agora para que se faça essa reunião de forma virtual. Uma transmissão do Sheik com a oração e todo mundo nas suas casas acompanha a oração como se estivesse na mesquita”, explica o muçulmano.
Mesmo assim, Shweiki destaca a importância de encararmos o momento como um aprendizado. “Eu acredito que com essa questão do Coronavírus, das pessoas se tornarem mais humanas, repensarem a situação, acho que vai ser um Ramadan com essa ênfase. Já que o Ramadan é esse mês mesmo de meditação, reflexão, enfim, agora com essa pandemia a gente vai ter mais um motivo para repensar o que a gente tá fazendo e o que nos norteia nessa nossa vida”.
Murilo Alves
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