O Doutor em Relações Internacionais, Renatho Costa, fala sobre a possibilidade de uma terceira Guerra Mundial e sobre a situação do Brasil em meio à tensão entre os dois países
Desde os primeiros dias do ano de 2020, os olhos do mundo estão voltados para o conflito entre Estados Unidos e Irã. Isto porque, no dia 3 de janeiro, o presidente estadunidense Donald Trump ordenou um ataque aéreo ao aeroporto de Bagdá, no Iraque, que resultou na morte do general Qasem Soleimani.
O ataque, que tirou a vida do segundo homem mais poderoso do governo iraniano, foi realizado por drones americanos. Após a ofensiva, Trump declarou que a investida ocorreu com a intenção de evitar uma guerra e não de começar uma.
No Irã, após o ataque, o líder supremo aiatolá, Ali Khamenei, decretou três dias de luto nacional pela morte de Soleimani e, disse ainda, que “uma vingança severa aguarda os criminosos’’.
Como resposta, o exército iraniano coordenou uma operação que culminou em um bombardeio a algumas bases americanas no Iraque. O contra-ataque aconteceu no dia 7 de janeiro e, de acordo com o assistente de Defesa Para Assuntos Públicos do governo americano, Jonathan Hoffman, pelo menos uma dúzia de mísseis balísticos foram disparados contra militares dos EUA.
É importante lembrar que os Estados Unidos estão a cerca de sete mil quilômetros de distância do centro geográfico do Brasil. Já o Irã está localizado a mais de 12 mil quilômetros das terras tupiniquins, sem mencionar a grande quantidade de água, proveniente dos Oceanos Atlântico e Índico, que separam os dois países.
Sabendo disso, surge a pergunta: o que nós, brasileiros, gaúchos e santanenses temos a ver com esses conflitos? Para descobrir a resposta para esta e outras perguntas, a Reportagem do Jornal A Plateia procurou o Doutor em História Social e professor de Relações Internacionais da UNIPAMPA, Renatho Costa.
Era possível prever?
Para o Doutor, esse ataque americano não parecia tão iminente antes de, efetivamente, acontecer. “Havia uma tensão, sim. Essa tensão, ela existe desde 1979, quando aconteceu a revolução islâmica no Irã, mas, que havia um acirramento na relação entre esses dois (EUA e Irã), a gente foi percebendo isso, gradualmente, a partir do momento em que o presidente Trump foi eleito’’.
Um dos principais pontos responsáveis por essa escalada na “queda de braço” entre os dois países foi o anúncio da saída dos Estados Unidos do acordo nuclear em 2018. O documento, fruto de uma extensa negociação, foi firmado em 2015 pelos Estados Unidos, Irã, China, Reino Unido, França e Alemanha, e trazia em seu texto a garantia de que parte das sanções contra Teerã seriam derrubadas, desde que o regime islâmico não possuísse nenhuma bomba nuclear.
E agora, é guerra?
Acerca disso, o professor explica que o atentado ao general Soleimani não foi uma declaração de guerra, mas, sim, uma possível manobra política e publicitária do governo Trump. “Se, por um lado, gerou essa celeuma, essa tensão internacional, por outro lado, era perceptível que os Estados Unidos não queriam uma guerra. Era, simplesmente, gerar algum tipo de notícia que reduzisse aquele foco que está tendo nos Estados Unidos com relação ao processo de impeachment dele (Donald Trump)’’.
Como o Brasil pode ser atingido?
Mesmo de longe, o Brasil pode, sim, sofrer as consequências provenientes deste conflito entre os Estados Unidos e Irã. Embora a chance de ser atacado através das forças militares iranianas e seus aliados seja praticamente inexistente, o reflexo desse desentendimento pode ficar mais evidente na economia brasileira. “Se a tensão tivesse demorado mais tempo, muito provavelmente nós teríamos algum problema com a questão do petróleo. Mas como foi um conflito muito rápido, por enquanto, […] não tivemos muitas alterações no mercado do petróleo‘’, comentou Costa.
Com o cenário de guerra e ataques distante, não há com o que se preocupar, certo? Nem tanto. Para o doutor, tudo está nas mãos de Jair Bolsonaro e do Ministério das Relações Exteriores. “Com relação à questão de segurança, […] acho que o posicionamento que o Brasil assumiu inicialmente, de se alinhar e achar que a ação estadunidense era legítima, isso já gerou um desconforto para a diplomacia’’.
Vale lembrar que, após a declaração de apoio à ação americana através de uma nota divulgada pelo Itamaraty, mesmo que sem citar o Irã, os representantes do Governo brasileiro no país islâmico foram convocados para prestar esclarecimentos sobre o posicionamento.
Quem compareceu à reunião com a Chancelaria do Irã foi a encarregada de negócios da embaixada, Maria Cristina Lopes, visto que o embaixador brasileiro, Rodrigo Azeredo, estava em férias. De acordo com o Itamaraty, o tom da conversa foi bastante cordial e diplomático, mas o seu teor deverá permanecer reservado e também não será comentado pelo Ministério.
Murilo Alves | [email protected]