A justiça especial da paz na Colômbia escava um cemitério onde, de acordo com a versão de um militar, há uma vala comum com “mais de 50 civis” executados por soldados que os fizeram passar por rebeldes mortos em combate, informou o tribunal neste sábado.
“É importante observar que esses fatos nunca foram investigados pela justiça comum”, disse a Jurisdição Especial de Paz (JEP), que lida com as graves violações de direitos humanos cometidas no conflito armado com a guerrilha dissolvida das Farc.
Um militar que decidiu colaborar com esse tribunal, criado no contexto do acordo de paz de 2016, levou os investigadores ao cemitério Las Mercedes, no município de Dabeiba (noroeste).
Presume-se que no local “encontram-se os corpos de mais de 50 pessoas legitimamente apresentadas como baixas em combate”, afirmou o JEP em comunicado, acrescentando que “sete corpos completos” já foram exumados este mês.
Para o organismo, tratam-se de “execuções extrajudiciais seguidas de desaparecimento forçado”.
Segundo as as evidências coletadas pelo JEP, homens entre 15 e 56 anos de idade dessa cidade, capital do departamento de Antioquia, teriam enterrados em Las Mercedes, a mais de 170 quilômetros de Medellín e capital do departamento de Antioquia.
Esses supostos crimes aumentariam o número do que é conhecido na Colômbia como “falsos positivos”, execuções extrajudiciais de pelo menos 2.248 pessoas nas últimas décadas.
Acredita-se que 59% dessas mortes ocorreram entre 2006 e 2008 sob o governo do ex-presidente Álvaro Uribe.
A prática consistia basicamente em uma “contagem de corpos” premiada: contar corpos para inflar as ações do exército. Dezenas de jovens foram enganados com promessas de emprego, retirados de seus territórios e levados para serem mortos e disfarçados de guerrilheiros.
ONa época, o governo de Uribe demitiu militares de alta patente e modificou as diretrizes de guerra para evitar novas execuções.
Mais de mil militares foram condenados nos tribunais comuns pelos crimes de civis e 148 aceitaram voluntariamente o tribunal da paz, segundo dados oficiais.
A investigação em Dabeiba começou com a denúncia de um soldado que se submeteu ao JEP por benefícios penais, em troca de confessar seus crimes e ajudar a reparar as vítimas.
As mesmas vantagens são consideradas para civis e guerrilheiros que contribuem para esclarecer o que aconteceu em um conflito de meio século, que deixou mais de oito milhões de vítimas mortas, desaparecidas e deslocadas no país.
Fonte: Gaúcha/ZH
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