Naturais de Cachoeira do Sul, Eloísa e Claire namoraram na adolescência e, após algumas oportunidades, conseguiram se encontrar em Porto Alegre
No final dos anos 1960, na cidade de Cachoeira do Sul, um casal de vizinhos vivia um romance proibido. Ela com 13 anos, e ele com 18 anos não tinham autorização dos pais para namorarem, mas desafiavam a família para viver o amor censurado. Por dois anos, entre uma escapada e outra, Eloísa Garcia da Silva, hoje com 65 anos, e Claire Mario Almeida da Silva, mais conhecido como Saibe, 70 anos, testaram as objeções das famílias.
Porém, ao completar 20 anos, Claire mudou-se para Porto Alegre, onde foi servir ao Exército, e perdeu o contato com Eloísa. O tempo passou, e ele já não tinha mais parentes na cidade, fazendo com que nunca mais retornasse à sua cidade natal. Aos 19 anos, Eloísa casou-se e, na sequência, teve três filhas _ Isabel Cristina, Simone e Adelita. Com o primeiro companheiro, viveu por 21 anos.
Claire não se casou, não teve filhos e também nunca esqueceu o amor vivido na adolescência. Entre algumas namoradas, vez e outra recordava-se da vizinha e questionava-se sobre o que teria acontecido com ela.
A ” deixa”
Em 2000, o marido de Eloísa faleceu, e ela passou a viver na casa da filha do meio, Simone. Hoje aposentada, a ex-diarista confessa que não pensava mais em Claire, pois, na verdade, nem sabia se ele estaria vivo. Em 2014, Eloísa passou por um transplante de fígado e ficou durante um período internada no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Nesse mesmo intervalo de tempo, Claire fez uma cirurgia no nariz.
— Fiquei por muito tempo vindo ao hospital para fazer exames, antes e depois da cirurgia, e ela também estava por aqui (a entrevista do casal foi dada à reportagem dentro do HPCA). Talvez nós tenhamos nos cruzado muitas vezes e não nos reconhecido, porque a gente não sabia como cada um estava — recorda Claire.
Mas essa história começou a mudar no ano seguinte. O ex-vigilante resolveu que era hora de parar de trabalhar e curtir uma praia. A ideia era ir ao Balneário Pinhal e à prainha de Cachoeira do Sul. Mas, por medo de ser assaltado, resolveu que deveria deixar seus pertences, dinheiro e algumas roupas na casa de algum conhecido.
— Eu já não conhecia mais ninguém, aí lembrei dela. Se morasse na cidade ainda, poderia guardar as minhas coisas. Foi então que eu pedi ajuda para um amigo e, como eu não entendo muito de internet, pedi que ele a procurasse. E a encontrou no Facebook —relembra.
O desencontro e o encontro
Na página do Facebook de Eloísa estavam todas as informações que o eterno apaixonado procurava, inclusive seu telefone, o qual, sem titubear, Claire discou, pedindo ajuda. No dia do telefonema, por coincidência, Eloísa estava em Balneário Pinhal _ um dos destinos pretendidos de Claire _ e aceitou ajudar o ex-vizinho.
— Ele ficou de me procurar em Pinhal, mas a gente não combinou um lugar certo. Ele ficou rodando o dia inteiro e não me achou — disse ela.
— Me queimei no sol procurando por ela o dia todo e não achei. A gente também não se telefonou, e eu fui embora. Depois de 15 dias é que fui ligar para ela novamente — completa Claire.
Quando ele entrou em contato com Eloísa novamente, logo percebeu que algo não estava bem. Com a voz estremecida, ela informou que, após uma queda em casa, estava mais uma vez internada no HCPA, em Porto Alegre. Claire resolveu visitá-la. O reencontro do casal aconteceu, quase 50 anos depois, em uma cama de hospital.
— Eu achei que ia encontrar uma mulher velhinha, enrugadinha, mas quando cheguei vi lá que ainda dava um caldo — diverte-se.
— Me achou aqui, toda sorriso! — revela Eloísa.
Neta incentivou avó
Durante o período em que ela esteve internada, Claire visitou Eloísa diariamente. Entre uma conversa e outra, ele revelou que nunca a esqueceu e que teria vontade de viver aquele amor outra vez. Na defensiva, a aposentada disse que não queria mais ter ninguém e que preferia ficar sozinha. Mas Claire tinha um trunfo: contou com o apoio da neta de Eloísa, Carla, que deu aquele “empurrãozinho” ao casal.
—Minha neta questionava o porquê de eu não dar uma chance a ele, já que ele dizia que sempre me amou. Ele vinha todos os dias no hospital, até que me convidou para dormir na casa dele, para que eu não precisasse ir para Cachoeira diariamente e voltar, pois estava fazendo fisioterapia. Eu aceitei, mas levei minha neta junto. Na casa dele, ele ofereceu seu quarto para mim e minha neta dormirmos e disse que ficaria num colchão, na sala. Só que a minha neta foi mais rápida e pulou para o colchão. Eu dormi com ele no quarto, mas foi só isso — enfatiza Eloísa.
Para a eternidade
No dia seguinte, admirando as atitudes e gentilezas do antigo namorado, Eloísa disse que voltaria na semana seguinte para visitá-lo _ mas, desta vez, sozinha. E foi o que fez, e o romance se desenrolou. Em dois anos, Eloísa morou entre Porto Alegre e Cachoeira do Sul, até que o casal resolveu voltar para Cachoeira.
Hoje, os dois vivem na casa que era da mãe de Eloísa, a mesma onde se conheceram e começaram a sua história de amor. No dia 16 de novembro, os pombinhos vão comemorar o primeiro ano de casados.
— É maravilhoso. Eu digo que ele foi a melhor “porcaria” que eu arrumei (brincadeira entre eles). Ele é uma pessoa maravilhosa — conta aos risos, oficialmente, a esposa de Claire.
— Eu achava que a vida era boa antes, mas, boa mesmo, ela ficou depois que eu a reencontrei — conclui o eterno apaixonado.