O ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, afirmou em entrevista coletiva nesta segunda-feira (4) que não é possível saber ainda a quantidade de petróleo derramado na costa do Nordeste.
— É difícil, porque ele (o óleo) fica a meia água, é imperceptível. Nós não sabemos a quantidade derramada, o que está por vir ainda. Avançamos na investigação — declarou o ministro, contrariando a fala do presidente Jair Bolsonaro que, no domingo (3), afirmou em entrevista que uma catástrofe muito maior estaria para ocorrer.
Representantes da Polícia Federal, Marinha, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) também estiveram presentes.
Reparação dos danos custará bilhões
O presidente do Ibama, Eduardo Bim, um dos órgãos que integram o Grupo de Avaliação e Acompanhamento, criado pelo governo federal para dar resposta ao desastre ambiental, disse que a reparação dos danos causados pelo óleo custará caro.
— Esse dano não está quantificado ainda. Vai ser um dano na casa dos bilhões, com certeza — declarou Bim.
Além da indenização, cabe a aplicação de multas ambientais aos responsáveis. Por lei, as multas podem ser de até R$ 50 milhões cada uma.
O presidente do Ibama disse que o órgão ainda não tem estudos sobre a qualidade dos mariscos e dos peixes pescados na região para consumo. Essa informação depende de levantamentos do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Operação de combate ao óleo
A Marinha informou que quatro mil toneladas de resíduos foram recolhidos no mar, em praias, estuários, mangues e outros locais do Nordeste. Por ora, foram atingidos 110 municípios de nove estados.
Até agora, o relatório divulgado pelo Ministério da Defesa aponta a utilização de mais de 3.370 militares da Marinha e 27 navios (23 da Marinha e quatro da Petrobras) na ação. O esforço também contou com o emprego de 14 aeronaves, 5 mil militares do Exército, 140 viaturas, 140 servidores do Ibama, 40 do ICMBio e 440 funcionários da Petrobras.
Comandante de Operações Navais da Marinha, Leonardo Puntel afirmou que o surgimento de novas manchas de óleo no litoral está diminuindo. Porém, é difícil dizer o quanto ainda vai chegar às praias.
— O que estamos vendo? Um arrefecimento real estatístico da quantidade de óleo nas praias. Há mais de cinco dias que não chega óleo nenhum em Pernambuco — afirmou Puntel.
Segundo o almirante, o que dificulta a identificação do óleo é o fato da substância permanecer sob a água, o que não auxilia no reconhecimento de satélites ou de aviões.
No sábado (2), fragmentos de petróleo chegaram à Ilha de Santa Bárbara, em Abrolhos, na Bahia. O local abriga a maior biodiversidade marinha de todo o Oceano Atlântico Sul.
— As correntes marítimas tomam rumos diferenciados. Muito óleo que poderia ou foi lançado ao mar pode ter pego o rumo das correntes da Guiana e ter se dirigido ao Caribe, talvez até em maior quantidade. Nós temos que estar atentos, vigilantes o tempo todo — reforçou o comandante.
Navio investigado
Apontada pelas autoridades brasileiras como a principal suspeita pelo vazamento, a empresa Delta Tankers LTD, gestora do navio petroleiro grego Bouboulina, negou o envolvimento no ocorrido.
Conforme o delegado Franco Perazzoni, da Polícia Federal, que também esteve presente na coletiva, a empresa vai ser notificada para prestar esclarecimentos. A Interpol foi acionada para auxiliar na tomada de informações.
— A empresa é suspeita no momento. Não houve indiciamento — afirmou o delegado.
As autoridades já solicitaram informações da Venezuela, onde o Bouboulina foi abastecido, e de Singapura, onde ele foi descarregado. A embarcação ainda passou por países como África do Sul e Nigéria.
Ainda sobre a linha de investigação, a PF não trabalha com outros suspeitos. Segundo Perazzoni, as amostras de óleo coletadas para análise chegam, ainda hoje, ao Rio Grande do Norte.
— Não existe plano B ou C. A investigação é essa — enfatizou.
No final da coletiva, o almirante Puntel ressaltou o trabalho que vem sendo feito em conjunto pelo Ministério da Defesa, Marinha, Ibama e ICMBio.
Fonte GauchaZH