O trabalho dos policiais que atuam no combate ao roubo de gado na região da fronteira. Nesta semana, operação da BM e a Policia de Rivera recuperou mais de 50 animais furtados
O faroeste é um gênero de vários tipos de arte que contam histórias ambientadas, primordialmente, no Velho Oeste dos Estados Unidos do século XIX, normalmente centrado na vida dos cowboys ou pistoleiros armados com revólveres e rifles da época, em cima de seus cavalos. Esses personagens, frequentemente, usavam o notório chapéu Stetson, bandanas, esporas, botas e camurças. Outros personagens são os índios americanos, bandidos, homens da lei, caçadores de recompensas, foras da lei e cavalaria montada.
O gênero ficou muito conhecido por meio do cinema e acabou virando uma febre entre os amantes da sétima arte. Mas a realidade das telas está muito mais próxima do que a gente imagina. Nos campos da fronteira entre o Brasil e Uruguai, em pleno 2019, policiais e “abigeatários” travam diariamente um jogo de gato e rato.
Estes homens da lei, nos dias de hoje, são os policiais que integram a unidade da Patrulha Rural da Brigada Militar no lado do brasileiro, enquanto do lado uruguaio os agentes de campo da Divisão de Serviço Rural da Polícia de Rivera andam no rastro dos quadrilheiros que alimentam o “sem fim” do abigeato. A grande extensão de fronteira entre Brasil e Uruguai, o difícil acesso a algumas áreas, a escassez de recursos e investimentos são algumas questões que dificultam a ação dos policiais. De um lado, o pecuarista, proprietário rural, de outro os criminosos que agem na calada da noite ou até à luz do dia e no encalço incansáveis homens que deixam as suas famílias para desempenharam o seu trabalho. Como é o caso dos policiais que atuaram na Operação “Tatu” que foi desencadeada nesta semana com a cooperação da Patrulha Rural da Brigada Militar e pela Divisão de Serviço Rural da Polícia de Rivera que acabou recuperando pelo menos 38 animais. A operação aconteceu após três pecuaristas de Livramento da região da Coxilha Negra terem comunicado à polícia sobre o sumiço de gado das suas propriedades.
Os quadrilheiros
A partir deste comunicado, o setor de inteligência da Brigada Militar e o BPRA de Rivera, começaram a trocar de informações e deslocaram equipes para região. Em um trabalho extremadamente minucioso e exaustivo que durou mais de 72 horas incluindo policiais que ficaram de tocaia em pontos estratégicos em um matagal, na tarde de quarta-feira (17) os policiais conseguiram localizar nove animais que já estavam remarcados, em uma propriedade, e realizaram a prisão de um homem por receptação do lado brasileiro. Ele foi levado para a DPPA para prestar depoimento, mas teve a prisão “revogada” sendo solto posteriormente. Na tarde do dia seguinte, a Patrulha Rural acabou prendendo o filho desse homem em outra localidade e com eles foram encontrados mais alguns animais. Ele também foi ouvido na DPPA e posteriormente liberado.
A reportagem do Jornal A Plateia acompanhou, na manhã de quinta-feira (18), a entrega a um produtor rural de 38 animais que foram recuperados pela Policia de Rivera e Brigada Militar. A entrega aconteceu em frente a uma propriedade particular de florestamento na região conhecida como Platón, próximo a Curticeiras, no departamento de Rivera. Segundo o Comandante do 2º RPmon, Coronel Otero, a região é bastante utilizada pelos quadrilheiros pela sua proximidade com a linha divisória e também por conter um imensa área de mata de florestamento, onde os criminosos acabam utilizando isso a seu favor escondendo os animais furtados em meio a mata fechada. “Assim que nós identificamos a região e o modus operandi nós sabíamos que esses furtos estavam relacionados com essa quadrilha de brasileiros e uruguaios que usam a florestação e o Platón, que é uma área muito grande para esconder esses animais. Inclusive, nesta ação, ao fazer a recolhida dos animais encontramos uma mangueira no meio do mato onde eles colocam esses animais para ficar na espera por 10, 15 dias para depois trocar o sinal para revendê-los” disse.
O Coronel Otero, agradeceu o apoio do Comissário Magdaleno e do Subcomissário Gomez na operação e destacou que “ação dos criminosos é extremamente organizada onde cada um dos abigeatários tem a sua função definida. Um é responsável por fazer o furto na fazenda. Já o outro transporta o animal, tem aquele que tem parte do seu campo arrendado ou até mesmo invade outras propriedades como é o caso do florestamento e fazem bretes em locais de difícil acesso de viaturas e automóveis. Então, só se chegou a este brete dentro da mata porque os policiais da Brigada e Policia Uruguaia realizaram uma varredura por horas e horas até encontrar os animais”, disse.
Montando a cavalo, ao lado de um dos policiais de Rivera, o pecuarista e veterinário Marco Machado, ajudava a patrulha a tirar de dentro do florestamento seus animais que haviam sido furtados. Um alívio e um desabafo emocionado de quem trabalha no campo e está à mercê dessas quadrilhas. Escoltado por agentes armados viu parte do seu patrimônio ser recuperado. “Sou produtor da Coxilha Negra, é duro viver assim. Não tenho condições de falar. Enfrentar isso todos os dias é louco, mais que difícil. Nós temos que enfrentar os tais de “veganos” que dizem que nós estamos destruindo o meio ambiente e mais essa questão da insegurança. É coisa pra louco” desabafou.
No tranco, na estrada, os bois recuperados foram sendo escoltados por homens armados e viaturas policiais, encerrando assim mais um capítulo desta triste realidade vivida pelos pecuaristas da região.