Em sua primeira entrevista exclusiva desde que foi preso preventivamente na Operação Laranja Mecânica, o vereador Lídio Mendes – Melado, disse que a ficha só caiu quando chegou no Presídio e que espera da Justiça
Depois de mais de 5 meses após ser preso na Operação Laranja Mecânica, que investiga, segundo a Polícia Federal, uma organização criminosa especializada em fraudar licitações para obtenção de contratos públicos de prestação de serviços de transporte escolar, o vereador Lídio Mendes Melado (PTB), preso no dia 21 de novembro, concedeu sua primeira entrevista exclusiva sobre o caso.
Melado está sendo investigado porque, de acordo com a PF, teria solicitado e recebido vantagem indevida de um empresário para interceder junto ao poder Executivo Municipal em procedimentos de fiscalização que a prestadora de serviço de transporte escolar vinha sofrendo.
Durante a entrevista, o parlamentar falou sobre como foi o dia em que foi preso. O parlamentar argumentou ainda que, depois de todo o ocorrido, ainda está sem respostas.
Jornal A Plateia – Como foi acordar com a Polícia Federal batendo na porta da sua casa?
Lídio Mendes Melado – “Para mim foi uma surpresa, porque 6 horas da manhã começaram a bater à porta da minha casinha, que eu morava em uma casa de madeira, eles dizendo “abre a porta”. Quando eu abri eles me perguntaram onde estava as armas e as drogas. E eu disse, quais armar e quais drogas?! Vocês erraram, aqui quem mora é o vereador Melado e me disseram: é tu mesmo quem nós queremos. Me colocaram para dentro com uma arma na cabeça e me fizeram sentar. Foi então quando disseram que iam chamar as testemunhas. Quando eu vejo chegam duas vizinhas perguntando o que houve e eu disse que não sabia. Foi então que o policial começou a revisar a minha casa na presença delas. Passou dez minutos e chegaram mais policiais e eles se perguntando se haviam achado alguma coisa. Até então eu não sabia que tinham ido na casa da minha ex-mulher, onde estavam os meus filhos, para procurar documentos. Lá revisaram e perguntaram sobre documento de ônibus. Foi um constrangimento, pois eu não sou um marginal. Eles não me algemaram e pediram que eu acompanhasse eles até a Câmara. Quando chegamos na Câmara eu não fui ao meu gabinete, quando chegamos lá vejo o meu colega, que trabalha na Polícia Federal entrar no meu gabinete, sendo que os policiais da operação não eram daqui. A minha assessora viu em um gabinete – de outro vereador – pessoas comemorando. Foi na Câmara que eu também fiquei sabendo que parecia que era uma denúncia do Júlio Doze”.
Perguntas na sede da Polícia Federal
Lídio Mendes Melado – “Depois da Câmara eu fui encaminhado a sede da PF na rua Silveira Martins. Lá me fizeram duas perguntas: uma sobre uma gravação em que eu tinha ligado ao empresário João Pedro (de uma empresa de transporte escolar), cobrando dinheiro dele. Eu disse que tinha ligado sim e disse também que se ele me devolvesse o meu telefone, eu seguiria ligando a ele. Pois o dinheiro é meu, é de uma chácara que eu tinha vendido junto com minha ex-mulher e eu recebi R$29.700,00 e dei R$20 mil para ele guardar. A segunda pergunta foi se eu tinha agendado uma reunião com o prefeito para as empresas de transporte e eu disse que sim, que tinha agendado, inclusive no dia da reunião foram convidados os vereadores do partido do prefeito, mas eu não fui”.
Lídio Mendes Melado – “Ao sair da sede da Silveira Martins nós fomos levados à sede na avenida João Pessoa. Dali eu já saí algemado. Imagine só, eu lutei toda a vida para ser honesto e eu estava algemado. Eu fui o único a ser colocado sentado na entrada da PF algemado, os demais empresários estavam em uma peça separado. Lá pelas tantas, alguém chegou e perguntou porque eu estava ali”.
Jornal A Plateia – Qual foi sua primeira sensação ao chegar na Penitenciária?
Lídio Mendes Melado – “Da Polícia Federal eu achei que ia para a minha casa, mas eu fui direto para o presídio. Até então não tinha caído a ficha. Fomos levados (cinco pessoas da mesma operação) para uma cela 3×2. A alimentação era uma colher de plástico para cinco pessoas comer. Uma garrafa de água gelada para nós tomarmos. Não tínhamos luz, não tínhamos chuveiro, somente um colchão para cada um de nós. Nos primeiros cinco dias nós ficamos sem ir ao pátio. Tomávamos banho de caneca. Eu dormia com a cabeça para o banheiro. Eu fui bem tratado pelos presos, são pessoas da minha vila, do meu bairro”.
Como foi o tratamento da Penitenciária?
Lídio Mendes Melado – “Dependia do agente, uns eram humanos, mas outros não nos tratavam bem. A humilhação que passamos lá…” lembrou ele.
Renovada a prisão preventiva
Lídio Mendes Melado – “Quando fecharam os primeiros 5 dias de prisão, nós achamos que íamos sair de lá. Veio um papel dizendo que nós íamos ficar mais 5 dias por risco de vida do denunciante Júlio Doze. Foi então que eu falei para o pessoal do presídio que nós não tínhamos luz, água… nada. Foi então que conseguimos uma televisãozinha para colocar lá”.
Jornal A Plateia – O senhor participou do programa Conversa de Fim de Tarde em que Júlio Doze pediu desculpas ao senhor, depois de ter dito que foi ameaçado. Como o senhor se sente após essa declaração?
Lídio Mendes Melado – “Ele veio aqui e me inocentou, algumas pessoas me condenam que eu perdoei ele, mas quem sou eu para julgar alguém?! Quero que façam as investigações agora para saber o motivo que eu fui preso. Eu acredito na Justiça, mas agora eu me sinto injustiçado. Eu preciso saber se eu vou ser condenado, se eu for, eu tenho que pagar. Eu tenho residência fixa em Sant’Ana do Livramento, já fui funcionário público, fui embora da cidade. Voltei para Livramento e entrei na política e, em meio a essa trajetória, eu só tenho dois defeitos: dizer a verdade e ser honesto. Hoje, isso é defeito. Eu confio na Polícia Federal, Justiça Federal, na Promotoria Federal, mas que eles me deem resposta”.
Jornal A Plateia – O senhor tem um trabalho reconhecido muito forte na área da saúde, depois de todos esses acontecimentos o senhor acredita, que de alguma forma, isso ficou afetado?
Lídio Mendes Melado – “Eu quero acreditar que não. Ainda mais depois da entrevista do rapaz (Doze) disse que eu não tinha ameaçado ele. Eu sou esse cara, não mudei, mesmo preso. Agora, eu quero a resposta do juiz. Eu não sei o que é esse lobby até hoje. Disseram que eu influenciava nas vistorias e escolhas das empresas de transporte escolar. É mentira, eu sei, não precisavam ter feito o que fizeram. Eu ensinei os meus filhos para respeitar, serem honestos e amigos da Polícia”.
Jornal A Plateia – O que o senhor espera daqui para frente e qual o recado que o senhor deixa para a comunidade?
Lídio Mendes Melado – “Quando você é inocente, lute. Não tenha medo de ninguém, lute para provar a sua inocência. Se o senhor é honesto, lute. No meio de toda a sociedade existe os bons e os ruins. Com o mesmo respeito que eu trato todos, eu quero que investiguem e digam o que eu fiz. A minha vida toda eu criei os meus cinco filhos e, agora, a única coisa que eu peço é resposta”.