A amazona gaúcha Xaiani Gonzales comprou o cavalo e juntas superaram problemas de saúde e fizeram história no Brasil
Quando Ponteira 273, égua da raça Crioulo, foi vendida como animal de descarte em razão de um problema nas patas, ninguém poderia imaginar que ela ajudaria sua nova proprietária, Xaiani Gonzales, de 16 anos, a enfrentar um quadro depressivo que já dura mais de dois anos. Mas a relação de amor e amizade ultrapassou todos os impediditivos quando, no último dia 18 de maio, Ponteira conduziu a jovem ao posto de primeira mulher a vencer a Marcha Anual de Resistência, competição nacional que avalia a rusticidade, resistência e capacidade de recuperação dos cavalos da raça. As duas percorreram uma distância de 750 km durante 15 dias.
O destino de ambas, no entanto, parecia já estar traçado muito antes. A égua pertenceu ao irmão de Xaiani no passado, mas precisou ser vendida porque a família encontrava-se em crise financeira. Em 2018, quando teve notícias do animal, descobriu que Ponteira estava sendo vendida como descarte por conta de um problema de saúde nas patas. Sem pensar duas vezes, a jovem juntou R$ 5 mil e levou a velha amiga para casa.
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A paixão pelo meio rural Xaiani herdou do avô, que trabalhava com cavalos de carreira. Ele instigou na jovem o amor pelos animais e a vontade de aprender ainda mais sobre eles. “Jamais cobicei ganhar qualquer coisa. Quando comprei a Ponteira foi com intuito de aprender. Mas desde o começo eu sabia a égua que tinha na minha mão. Minha égua tem um poder de recuperação muito grande”, conta.
A prova conquistada por Xaiani e Ponteira ocorreu no município de Aceguá (RS), na modalidade promovida pela Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC). A jovem sagrou-se como a primeira mulher a cruzar a linha de chegada da competição, que é inspirada nas lidas campeiras das estâncias.
“Jamais pensei que poderia ganhar. É muito de Deus. Foi uma coisa inesperada. Eu enfrento a depressão e ansiedade, mas os cavalos sempre foram minha terapia. Quando eu comprei a Ponteira, foi como se eu desse um passo maior nesse tratamento”, revela.
A preparação
A conquista veio após um ano de preparação. Xaiani e Ponteira percorriam entre 20 km e 30 km todas as manhãs. Os treinos começavam às 5h da manhã e terminavam a tempo de a jovem ir para a escola, onde cursa o segundo ano do ensino médio. Para o futuro, ela já tem certeza com qual área quer trabalhar, restando apenas se decidir entre zootecnia e medicina veterinária.
Em 2018, durante a Marcha de Resistência, Ponteira 273 já havia ficado em 5º lugar. Agora, aos 11 anos, contrariando tudo e todos, a égua figura no primeiro lugar.
A ABCCC realiza a competição desde 1971 e, na edição 2019, participaram 26 conjuntos (cavalos e cavaleiros). Os animais permaneceram confinados por 30 dias, desde 4 de abril, na Estância Santa Leontina, local de concentração para que fossem garantidas as mesmas condições climáticas e alimentares, sob os cuidados dos organizadores e de médicos veterinários. No dia 4 de maio, os competidores saíram para percorrer os 750 km e encerraram a prova na Cabanha Cevadura.
A prova
Realizada há 48 anos, a Marcha de Resistência é a disputa funcional mais antiga da entidade e junto ao Freio de Ouro e Morfologia formam o tripé seletivo da Raça Crioula no Brasil. A prova possibilita aos animais concorrentes pontuação no Registro de Mérito da Raça. A prova é dividida nas categorias reprodutores, cavalos castrados, éguas e éguas menores de sete anos.
Após o período de concentração, os animais são devolvidos aos proprietários um dia antes do início da competição para que sejam tosados, lavados e ferrados.
A Marcha é dividida em três fases: a primeira (regulada) é a jornada de condicionamento do animal, portanto não tem grande exigência de velocidade – todos os competidores saem e chegam no mesmo horário; na segunda fase (semi-regulada) todos largam juntos e têm tempo mínimo e máximo para completar o percurso (os que excederem este tempo são automaticamente desclassificados); já a terceira e última é livre, sem limite de tempo.
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