Comissão será formada para investigar aparecimento de composto de agrotóxico em plantas na região urbana do município
Laudo encaminhado para a Secretaria Estadual de Agricultura detectou a presença da substância 2,4-D em plantas na Praça Oriovaldo Grecellé. O composto faz parte de um herbicida utilizado nas lavouras de soja e pode ter sido trazido pelo vento
Um mistério. A Secretaria da Agricultura estadual recebeu na semana passada laudo laboratorial com resultado positivo. A coleta foi feita em uma amostra de cinamomo da Praça Oriovaldo Grecelle, em frente ao Hospital Santa Casa, região central da cidade. A quantidade de resquício encontrada foi 0,01 miligrama por quilo, o que já é considerado resíduo do químico. A deriva do herbicida 2,4-D já foi comprovada em videiras e oliveiras em regiões do Estado.
— Nos surpreendeu, sim, ter encontrado isso em zona urbana. Quem detectou foram os nossos fiscais que estão na rua. Começaram a verificar dentro da cidade que vegetais tinham os mesmos sintomas do campo (frutos secam e não se desenvolvem, por exemplo) — diz Fabíola Boscaini Lopes, chefe da Divisão de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal da Agricultura.
Agora, os laudos serão encaminhados para a Secretaria da Saúde e para o Ministério Público, que tem inquérito em tramitação para apurar os danos causados pela deriva do agrotóxico Como a região da Campanha é o principal foco do problema, coletas também foram feitas nas zonas urbanas de Bagé e Dom Pedrito.
Segundo o analista ambiental e chefe da APA do Ibirapuitã Raul Paixão Coelho, o assunto vem sendo amplamente discutido entre os órgãos ambientais do estado e país. A principal suspeita para o surgindo do composto químico nas plantas dentro do município é a má aplicação do agrotóxico que é pulverizado por aviões nas lavouras e pode ter sido trazido pelo vento. “Conversando com algumas pessoas que trabalham com pulverização área dentro da APA do Ibirapuitã , uma das explicações que recebi é que existem empresas que aplicam bem e outras que não aplicam tão bem assim. Essas para economizar nas passadas em cima da lavoura elas atomizam mais as gotas, elas acabam fazendo tipo um aerossol parecido que o inseticida que a gente usa em casa. Então em vez das gotas saírem no padrão correto onde ele precisar passar mais vez. Eles utilizam esse recurso que fica praticamente uma nevoa, que por sua vez cobre uma área muito maior e elas se transformam em partículas muito pequenas que são carregadas para a atmosfera e para grandes distância” explicou o analista.
Além desta hipótese Raul cita que a má aplicação também via terrestre pode ser a causa do problema por contado da mesma lógica. “O que nós queremos descobrir agora é se esse é um problema de todas as lavouras, ou se de repente foi o mal uso de apenas um agricultor que acabou espalhando para todos os lados. Mas como está acontecendo aqui em Livramento e em vários outros lugares deve estar sendo um problema de aplicações inadequadas e usual” destaca.
Uma das saídas apontadas pelo analista é que se faço zonas de exclusão, ou épocas de aplicação quando as condições meteorológicas estiverem adequadas com medição da velocidade do vento que deve estar abaixo de 14km/h e umidade relativa do ar. “Será que estão sendo observadas essas condições? E o que é que se fiscaliza isso? A ideia daqui para frente é se criar um comitê de crise e partir daí vão se surgir as ideias para tratar essa questão”.
Questionado sobre o risco para a saúde humano, Raul Paixão, disse que é pouco provável porque este tipo de herbicida possui uma ação especifica para as plantas não sendo nocivo ao ser humano.
O 2,4-D é um herbicida aplicado nas lavouras de soja antes de a plantação ser iniciada. O objetivo é conter e destruir a erva-daninha conhecida como buva. O produto atua no sistema hormonal dos vegetais, fazendo com que entrem em colapso e não se desenvolvam, morrendo ao final. As plantas costumam ficar retorcidas.
Matias Moura – [email protected]