Por Alex Soares
Chama a atenção daqueles que ingressam na antessala da presidência da Farsul a porta do gabinete do presidente da casa escancarada. Dentro dele, à mesa, o dirigente manuseia documentos, mexe no celular e interage com os visitantes.
E é assim desde o final de 2018, quando o produtor rural e médico veterinário Gedeão Silveira Pereira assumiu oficialmente o comando da federação da agricultura mais antiga do Brasil.
“Se não temos segredos a esconder, não existe razão para estarmos encerrados”, justifica.
A porta aberta, opção de Gedeão, é um pormenor, mas simboliza uma gestão marcada pela clareza das intenções e gestos. E ao final de 2025, quando o bageense de 76 anos começar a limpar as suas gavetas na Farsul para concluir o seu segundo mandato, a entidade estará maior, especialmente no que se refere as suas relações internas e externas.
Quando discursou na edição deste ano do Troféu Soluções, iniciativa da Comissão de Arroz da Farsul, Gedeão convidou para perfilar ao seu lado o presidente da Federarroz, Alexandre Velho e o economista da Farsul Antônio da Luz.
Com eles, compartilhou o crédito da competente reação à ofensiva do governo federal de importar arroz após a enchente de maio. Poderia deixar passar, mas reconheceu Velho, da Luz e os seus times pelas suas contribuições técnicas, cruciais para demover a Conab do arroubo intervencionista, que se executado, poderia ter custado caro à cadeia gaúcha do arroz.
“Mais do que a existência das entidades, a união delas é fundamental para reagirmos a todo tipo de riscos e obstáculos”, ponderou Gedeão.
Foi semelhante postura que teve com o movimento SOS Agro por entender a legitimidade da bandeira empunhada. Mais por convicção do que por estratégia se uniu as lideranças, mesmo sendo o interlocutor escolhido pelo Ministério da Agricultura para negociar volumes e formas para a chegada dos recursos aos produtores atingidos pelas cheias.
Como tempo e disposição dos governos e da produção são descompassados, o combinado nem sempre se cumpre – nem no conteúdo nem nos prazos previstos. Quando o poder político é antagônico, pior ainda.
Mas no fechamento de 2024, após oito meses de idas e vindas à Brasília, reuniões tensas, mordidas e assopros, Gedeão teve do ministro Carlos Fávaro a garantia de mais R$ 4,5 bilhões de recursos oriundos do BNDES, além das linhas de crédito liberadas antes e que foram voraz e velozmente consumidas.
Paralelo ao cargo de presidente da Farsul, herdado do lendário Carlos Sperotto, Gedeão Pereira responde também pela Diretoria de Assuntos Internacionais da Confederação Nacional da Agropecuária (CNA). Nesses últimos anos viajou pelo mundo e pelo Brasil, conheceu novos sistemas de produção, entendeu mais sobre mercados entre países, se reuniu com líderes de todos os matizes e ganhou prestígio interno na corpulenta confederação.
Em 2025 a CNA também elegerá nova diretoria e Gedeão é cotado para substituir o sóbrio João Martins da Silva Junior na presidência. O certo é que por sua natureza discreta o gaúcho não vai fazer qualquer movimento político antes que haja um aceno concreto que parta dos aliados da atual diretoria. Desde que foi eleito presidente da Associação Rural de Bagé, Gedeão nunca se ofereceu para ocupar cargos. Foi convidado.
Pelo tamanho e poder da CNA é natural a cobiça por controlá-la, não faltando candidatos para a sucessão de João Martins. Sai com enorme vantagem quem for apoiado pelo baiano de Feira de Santana . E dentro da CNA é conhecida a sua simpatia e admiração pelo colega bageense.