Quase seis décadas de arquitetura, uma bagagem repleta de grandes projetos e uma sede por inovação urbanística. O fronteiriço Alberto Brizolara é um apaixonado pelo ofício. Formado pela faculdade de Montevidéu, em 1965, possui passagens pela França, onde estudou novas tecnologias de construção, e pela Espanha. Brizolara é um dos maiores especialistas em construções com tijolos armados, título fruto de sua inquietação e busca por novas tecnologias de edificação.
Entre os projetos do urbanista na Fronteira da Paz, destaca-se a Igreja do Sagrado Coração, em Rivera, antiga Estação Rodoviária do município, e a Igreja Nossa Senhora do Rosário, em 1969, na Avenida Tamandaré. O trabalho de reconstrução da igreja foi pioneiro no uso da cobertura feita com o sistema de pré-moldados e cambotas (cimbres-guias), além de dupla curvatura. Buscando perpetuar o conhecimento adquirido ao longo de 60 anos de estudo e quase 20 em sala de aula – quando professor da UFRGS – há poucas semanas Brizolara lançou a obra “Estruturas e Coberturas em Tijolo Armado – Construção e Dimensionamento”.
O livro possui mais de 500 páginas e apresenta os sistemas construtivos de abóbadas e cúpulas de tijolo armado. Uma de suas inspirações de ofício, um “gênio”, conta ele, é o engenheiro e arquiteto uruguaio Eladio Dieste, criador do método de construção a partir do tijolo armado destaque em diversos capítulos da obra. Dieste é um dos autores do prédio da Ceasa, em Porto Alegre, considerado um dos mais avançados da arquitetura do Rio Grande do Sul. Após o proposto pelo engenheiro, Brizolara criou um sistema de edificação totalmente inédito e patenteou-a junto ao colega arquiteto José Miguel Aroztegui. A tecnologia permitiu o desenvolvimento de bordas afuniladas e outras técnicas desconhecidas até então.
“Como a tecnologia não foi ensinada, principalmente nas faculdades do Uruguai, o interesse começou a desaparecer porque não se ensinava. Porém, no Brasil existia apenas um, que no caso era eu, que já possuía o ímpeto de trabalhar com tijolo armado”, conta o urbanista.
Mais de 100 projetos em todo Brasil
No livro, Brizolara explica que o tijolo armado é utilizado há mais de cem anos, contudo, ao longo do século a técnica evoluiu em qualidade e resistência, o que permitiu obras grandiosas. “Só que essa é uma tecnologia que o pessoal precisa conhecer”. Além disso, ele revela que assinou oito projetos de igrejas em Florianópolis, Rivera e outros pontos. “E fiz agora uma capela na Faxina,
a 40 km de Livramento. É uma capela. E quem a fez? Os próprios moradores do lugar. Você percebe? Se fosse de concreto teria que trazer carpinteiro para fazer formas”.
O arquiteto ainda assina o projeto de diferentes escolas espalhadas pelo Uruguai. Pioneiro, não apenas na técnica, é também destaque no ensino de construções de tijolo e cimento armado, quando ajudou a criar a primeira Pós-Graduação em Construção do Brasil, na UFRGS, na década de 70. Todo este legado é impresso nas mais de 500 páginas de sua obra que, aliás, Brizolara faz questão de ressaltar não ser um livro tão sério, como estão habituados os leitores de obras técnicas. “Por exemplo, eu conto que fiquei encantado com as obras do Dieste, e com o Miguel, nós íamos 40 km de Montevidéu, e pegamos um ônibus cedo e ficamos sentados em uma obra do Dieste a observando”. Em um dos últimos capítulos, uma narrativa das contribuições a uma nova arquitetura. Ele estende o convite para que a comunidade de engenheiros e arquitetos, a partir do livro, conheçam novas tecnologias de edificação e entendam a trajetória percorrida ao longo de quase seis décadas de contribuição de Brizolara.