Gilberto Jasper
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Seis meses depois da maior catástrofe climática do Rio Grande do Sul, pouco mais de 50% dos recursos que os governos federal e do Estado prometeram foram liberados. Segundo os últimos levantamentos, há quase duas mil pessoas que ainda vivem em abrigos.
Temos, ainda, um contingente que “mora de favor”, com amigos, vizinhos e parentes. No Vale do Taquari, a região mais atingida, a situação é ainda mais dramática. Há centenas de pessoas vivendo de maneira indigna, sem privacidade, desde setembro do ano passado, na primeira das três enchentes que assolaram a região.
Entende-se que existem ações que exigem implementação a médio e longo prazo, mas a burocracia – marca registrada do Brasil – impõe dor, sofrimento e revolta a milhares de gaúchos. O governo federal criou um ministério, pomposamente batizado de “Ministério da Reconstrução do Rio Grande do Sul”, cuja função era planejar e executar, com a máxima brevidade, soluções e minimizar as agruras de milhões de rio-grandenses.
A estrutura ganhou manchetes por meses a fio. Tivemos um sem número de comitivas vindas de Brasília. Houve uma enxurrada de entrevistas coletivas, fotos, vídeos com esmerada produção, além de ações maciças nas redes sociais e publicidade de rádio e TV. Prefeitos foram convocados para participar de atos, anúncios e solenidades. Muitos dirigentes municipais desistiram:
– O gasto para ir a Porto Alegre não compensa as migalhas que recebemos. E temos urgências no nosso município – confidenciou um prefeito do Vale do Taquari, amigo de longa data, indignado com o oba-oba em torno de obrigações das autoridades.
O governador Eduardo Leite tornou-se uma espécie de garoto propaganda, diuturnamente na mídia. Ele até apareceu em vídeos de alerta meteorológico. Algo de responsabilidade da Defesa Civil. Sem alarde, excesso de visibilidade e com discrição.
Parece que a população, chamada às urnas recentemente, reconheceu o esforço da maioria dos prefeitos de cidades assoladas pelas enchentes. A maioria conquistou a reeleição, apesar do discurso fácil da oposição. A população, pacata, ordeira e trabalhadora, não tem ânimos para protestar. Precisa reconstruir suas vidas. Espera pacientemente que um dia suas tragédias sejam levadas a sério.