Gilberto Jasper
Jornalista/[email protected]
Ao chegar à velhice um dos erros mais comuns é comparar épocas. Quase sempre isso acontece a partir do uso da expressão “ah… no meu tempo era tudo muito melhor!”. Adotar este comportamento é tão velho quanto o mundo. Confesso que depois de seis décadas de vida é praticamente impossível deixar de analisar de maneira crítica as mudanças ocorridas nos últimos anos neste mundão de Deus.
Uma das coisas que me impressiona é a falta de determinação e de perseverança que se vê por aí. Talvez isso seja consequência das facilidades à disposição para realizar quase todas as tarefas do cotidiano. As diferenças ficam ainda mais evidentes porque pertenço à uma geração em que o conforto era mínimo, a tecnologia engatinhava e a força física imperava no dia a dia. Quase tudo era penoso, exigindo muito esforço e humildade para aprender e respeitar os pais.
Outra característica dos dias atuais é a incapacidade da convivência com o fracasso, com o erro, obstáculos, com as dificuldades inerentes à condição humana. Basta aparecer uma adversidade, por menor que seja, para que o desânimo tome conta, transformando-se em desespero, incapacidade de refletir para buscar alternativas e revolta.
Dialogar é outro exercício árduo, de difícil assimilação. A imposição do pensamento único ou da ausência de determinação para superar óbices retarda o amadurecimento desta geração que nasceu com inúmeras comodidades, quase todas turbinadas pela tecnologia. É raro ver pessoas com pensamento divergente recorrerem ao diálogo. O comportamento belicoso diante das contrariedades pode ser visto às dúzias nas redes sociais. É um retrato do mundo atual.
Costumo dizer que passamos da época do “nada pode” para o “tudo pode” de hoje. Jamais confrontávamos ordens de nossos pais, impedindo o diálogo. Hoje, pais são desrespeitados, professores são agredidos em sala de aula. Procura-se hierarquia, respeito, sensibilidade e postura equilibrada em todos os segmentos. Como meu saudoso pai sempre dizia\:
– O bom senso nunca está nos extremos. Está sempre no meio termo.
Infelizmente há poucas perspectivas de termos um mundo mais cordial. O comportamento agressivo parece rende mais “likes” e curtidas e, em consequência, dinheiro, fama e destaque.