Gilberto Jasper
_Jornalista/[email protected]
Comecei a semana com tosse. É um problema mínimo diante dos males que afligem milhões de pessoas. A proliferação de farmácias não é um fenômeno recente, mas ainda chama a atenção. A disputa de mercado é turbinada pelos hipocondríacos, pessoas – no dito popular – “tem mania de doença”. As más línguas garantem que estes pacientes vão as drogarias em busca de lançamentos e promoções.
Voltando à minha tosse, resolvi ir ao pronto socorro localizado defronte ao meu trabalho. Além disso, tendo plano de saúde e nada mais lógico que buscar atendimento especializado.
Auscultado em vários pontos do pulmão e medida a pressão arterial e temperatura, o médico diagnosticou uma “infecção aguda das vias aéreas superiores não especificada”. Ato seguinte, atravessei a rua e fui à farmácia onde gastei 90 reais com antibiótico, antialérgico e xarope.
Caí na asneira de comentar minha atitude e quase morri de arrependimento.
– O que? Por causa de uma tossezinha tu foi ao pronto socorro, esperou meia hora pra ser atendido e ainda gastou com remédio? – disparou uma enfurecida colega de trabalho.
Para completar, perguntou quais os medicamentos prescritos, situação que resultou em outra manifestação irritada:
– Este teu médico não sabe de nada mesmo! – disparou e passou a enfileirar nomes comerciais e de princípios ativos do que realmente eu deveria usar para “uma simples tosse” e “ficar bem logo”.
O episódio comprova o arraigado hábito da automedicação, prática perigosa, mas que se tornou uma mania nacional. Costumo dizer que uma simples queixa sobre uma “dor na sobrancelha” suscita um rol infindável de sugestões sobre medicamentos. A “consulta informal” inclui nome de médicos, alopatas e homeopata. “Não te preocupa: todos atendem particular, Unimed e IPE”, acrescentam com sobradas manifestações de gentileza médica informal.
Com este pessoal eu costumo reagir com paciência. Afinal, eles querem ser gentis, além da melhoria de minha saúde e se dizem preparados para ajudar. Alguns, inclusive, ligam no dia seguinte para saber do meu estado de saúde, o medicamento consumido e o nome do médico consu-tado.
Com tanta atenção não estranha que tenhamos três ou quatro farmácias na mesma quadra. Haja doença!