Difícil quem não conheça Elke Maravilha. É só mencionar o nome para que venha a imagem da artista extravagante, de roupas irreverentes e únicas, sempre com sorriso gigante no rosto, que ganhou a simpatia nacional. Aos olhos de muitos, uma persona, talvez criada para ganhar os holofotes. Talvez. A verdade é que tanto faz. Elke é, de qualquer forma, uma personalidade intrigante, icônica, carregada por uma mulher carismática e de trajetória única.
Desde o nascimento, nada foi convencional. Seu pai, russo e acusado e “traidor da pátria”, voltava de um período cumprindo pena de seis anos no gulag (campos de trabalho forçado da ex-URSS de Stalin) na Sibéria, em plena segunda guerra mundial, quando Elke Grunnupp veio ao mundo. Já a localização é controversa: afirmou, durante toda sua vida, ter nascido em Leningrado (São Petesburgo), quando em sua certidão consta que nasceu na Alemanha. Motivo? segundo o pesquisador Chico Felitti, familiares de Elke poderiam ter sido colaboracionistas do nazismo, fato que não seria lá tão agradável de se revelar.
Chegou ao Brasil com sete anos e foi para o interior de Minas onde “em vez de brincar de bonecas, pegava o cavalo e sumia por quatro dias”, como contava a aventura em pessoa. Essa frase me faz imaginar a liberdade mental que teria desenvolvido na infância, e se estendeu para a vida adulta. Vida pacata para quê? Elke mudou-se inúmeras vezes e chegou a passar um ano e meio morando dentro de um carro, de vila em vila na Europa, com o primeiro dos oito maridos.
Oito maridos, oito línguas.
Virou professora de idiomas, secretária, tradutora, bancária, bibliotecária. Chegou a cursar Filosofia, Letras Clássicas e Medicina, mas não cabia mais aí. Era artista, e o chamado pulsava. Assim nasce a famosa Elke Maravilha: modelo, atriz, jurada, cantora, apresentadora e personalidade inconfundível da arte brasileira.
Conhecida por ser extremamente generosa, Elke morreu sem dinheiro, dizem os rumores que por ajudar a todos de forma descomedida. Morreu alemã, e não mais brasileira, já que perdeu sua cidadania na ditadura, quando resolveu rasgar cartazes de perseguidos, em defesa do filho de sua amiga Zuzu Angel, e foi punida por isso.
O apelido Maravilha não poderia ser mais adequado. Elke é maravilha, é maravilhosa. Com opiniões fortes e cirúrgicas, defendia sempre a liberdade do ser, os direitos básicos dos menos favorecidos, a arte e a brasilidade – em detrimento da “americanidade” que tanto abominava. É disso que precisamos, com urgência: de autenticidade com coragem, do altruísmo, da arte em todas as expressões.
Torcendo por mais Elkes no cenário brasileiro!