Gilberto Jasper
Jornalista/[email protected]
Em viagem no final de semana estava ao volante quando engoli o chiclete depois de devorar um pastel na beira da estrada. Foi um baita susto, resquício de um trauma de infância.
Engolir uma goma de mascar rendia terríveis consequências. “Nó nas tripas”, dificuldades de digestão, mal-estar, enjoo e um sem número de malefícios são algumas das consequências. Eram tempos de muita crendice e pouca informação científica.
A minha geração – nasci em 1960 – sofreu muito com as proibições a determinadas misturas de frutas. Lembro a melancia, este fruto vilipendiado por nossos pais e avós. Era impossível consumir a planta com qualquer outra fruta que imediatamente éramos advertidos:
– Tu tá lôco, guri! Vai passar mal. Vamos te levar pro doutor!
Melancia com leite, pêssego ou ameixa – e outros frutos – era condenação fatal de indigestão, mal estar e risco de vida na certa. Com o passar dos tempos aprendemos que nem tudo era verdade. Aliás, muito pouco daquelas superstições resultavam em malefícios.
Atualmente, com os avanços da medicina e da tecnologia da informação, proliferam conteúdos dos mais variados segmentos tratando de temas que à minha época de piá eram inimagináveis. Mas cá entre nós: quando disso tudo postado nas redes sociais é verdade?
O whatsapp é um território sem lei. Vejo inúmeros amigos alarmados com determinadas mensagens que tratam de malefícios de determinados alimentos e hábitos. Da mesma forma dou risada diante dos milagres prometidos a partir do consumo de certos produtos e rotinas do tipo “consuma cinco litros de água e durma bem”.
A proliferação de conteúdos enganosos é muito anterior à era da internet onipresente. Lembro-me do ovo, tecnicamente chamado de “zigoto dos animais”. Este foi um pobre coitado por décadas.
Durante décadas o ovo foi o grande vilão, culpado de todos os malefícios à saúde, De colesterol alto, hipertensão, flacidez, tonturas, fobias e até confusão mental. Tudo era creditado “à parte amarela do ovo”. A gema virou “a Geni” (lembram da música do Chico Buarque?). O tempo, no entanto, desfez esta injustiça.
Por causa das crenças de guri, quase morri de susto por causa de um chiclete. Só porque engoli um chiclete. Viu como a infância é marcante?