Buenas!
Desafios para sobreviver à rotina: tá aí um bom título para um livro de auto-ajuda, quem sabe para uma página de blogueirinho de rede social cheio de receitas para ter sucesso no mundo pós-moderno. Mas não é o caso, não sou afeito a receitas definitivas – poderia usar lacradoras, mas ainda não me adaptei ao termo e suas consequências –, afinal, nem todos temos o mesmo paladar…
A vida é feita de momentos especiais e aventuras, basta olhar as redes sociais das pessoas que nos cercam, ou de cotidiano e rotina? Alguém aqui não acorda, se arruma, ajeita filhos, gatos e cachorros, se os têm, parte para o trabalho ou fica no teletrabalho, mesmo de pijama, mas focado pois tem horário, demandas e prazos?
Caso presencial, há de ser simpático com colegas, falar da vida, das tosses, das alergias de primavera, marcar médicos e exames, não faltar aos mesmos também é deveras importante. Não pode esquecer de ligar para a mãe, se ainda a tem, e praticar atividades esportivas. Há pessoas que fazem academia vez ou outra, mas não esquecem de postar a tal da foto na frente do espelho. Há aqueles que precisam do exercício para si. Sou do segundo time.
As redes sociais vivem de rotina? Em geral, a gente evita, porque rotina não é inebriante, rotina não é viagem para a Europa, não é uma conquista, não é um carro novo, é só rotina, amanhã tem de novo. Mas, no caso da academia, do prato de comida arrumado, da roupa para trabalhar, tudo está entrando nas redes, como se delas dependesse nossa felicidade.
Há coisas que são semanais, estas têm maior chance de ganharem algum status nas redes sociais. Uma vez por semana, ao menos, podemos encontrar os amigos, dar risadas, falar bobagens, comentar o tempo no Brasil que está dando o que falar, não é? Além do Brasileirão e da Libertadores, que, para gremistas e colorados, sobrou o gostinho do quase… Apesar das redes sociais serem usadas normalmente para as exceções, estamos inserindo tantos assuntos, que nosso cotidiano acaba entrando nas redes, há gente que vive quase que de curtidas, e não falo aqui daqueles que vivem do dinheiro ganho pelas curtidas, os que ficam famosos por expor-se nas redes…
A vida é tão virtual, que optamos por trocar informações com pessoas do mesmo alinhamento de ideias. A gente evita conviver “virtualmente” com pessoas de alinhamento distinto. Eu, por exemplo, nem abro postagens que considero desalinhadas do que penso. A pessoa não vai mudar meu modo de pensar, eu muito menos vou mudar o dela, logo, para que insistir?
Nos dias atuais, todos buscamos espelhamento de ideias, contrapontos para quê, se já tenho minha posição formada a partir do que vivi e com quem convivo, não vou deixar minha rotina. E não há como o outro querer forçar esta mudança, logo, deixem cada um viver sua rotina como lhe aprouver, não adianta se indignar se A ou B pensam ou agem de modo distinto do meu…
E assim seguimos, vivendo uma vida presencial e outra nas redes sociais, com maior ostentação e acerto, é claro. Nas redes a gente só erra se for para ser cômico ou ganhar palminhas, digo, curtidas. Porém – não podia faltar um porém, né? –, conheci uma menina fora da curva. Pasmem: ela não tem redes sociais!
Diante da minha cara de espanto e estupefação, ela sorriu e disse que prefere não ter. Não, caros leitores, ela não é uma senhora idosa com celular de botão, é uma menina que não deve ter trinta anos, estudada, com bom emprego e uma vida estável. Mas ela não tem redes sociais!
Não tive tempo nem oportunidade de perguntar, mas fiquei a matutar os motivos. Será por desilusão amorosa? Não quer ver o ex? Mas basta bloqueá-lo, as redes são profícuas nisso. Ou será pelo trabalho dela de espiã internacional, não pode ser monitorada pelos satélites americanos ou chineses, por isso evita a exposição virtual?
Não sei o motivo, mas queria saber como ela faz. O tempo de meu cotidiano dispensado para olhar o que se passa no mundo virtual é tamanho, que poderia ter escrito uns dois romances este ano, cada qual maior que a Bíblia!
Quando criança, sonhava em ter um daqueles comunicadores de mão que os personagens da série Star Trek usavam: – Spock, nos teletransporte para a Enterprise!, dizia o capitão Kirk, e na hora apareciam na nave.
Hoje temos aparelhos similares em nossas mãos e, ao invés de fazermos viagens interplanetárias, ficamos a viajar virtualmente pela vida alheia, deixamos de vivenciar o presencial para vivermos o que se passa ali na telinha deste portátil computador.
Não sei o motivo da menina não ter redes sociais, mas que me deu uma inveja grande, isso deu. Na primeira oportunidade vou perguntar e ver se aprendo algo. No mínimo, quero aprender a ficar um pouco mais focado na minha rotina. E se eu apertar o botão de desligar do celular? Posso tentar…