Gilberto Jasper
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“Felicidade é a combinação de sorte com escolhas bem feitas”. Não conhecia a frase com a qual tomei conhecimento no fim de semana na crônica de Martha Medeiros.
Sou um otimista realista, se esta definição existe. O termo resume o fato de que procuro, sempre que possível, enxergar “o copo meio cheio” em todas as ocasiões. Ou seja, achar o lado bom, sem bancar o babaca piegas que vê o mundo cor-de-rosa em tudo.
Sou fanático pela profissão que abracei aos 16 anos. Agora, aos 63, mantenho o mesmo entusiasmo do ofício desde as 6h ao despertar, a mesma curiosidade e a incansável energia na busca da verdade neste cipoal de narrativas. É um termo cunhado pela esquerda para impor a adoção do que antes se chamava de “versão”.
Vislumbro inúmeros avanços vida afora, embora isso não signifique melhorias na qualidade de vida da maioria. Procuro me inteirar das novidades, sem paixões cegas. As rugas ensinaram a ser comedido nos julgamentos que muitas vezes o tempo modifica.
Nunca alimentei a ilusão de ter uma vida longeva. Gosto demais da vida, sim, mas os efeitos da idade todos os dias exibem exemplos dolorosos de senilidade. Nos últimos dias ouvi muitos episódios em que filhos encontram-se na mais dura encruzilhada: o que fazer com os pais que perderam a consciência, apesar do bom estado físico?
Relegar um ser humano tão querido à reclusão de um lar geriátrico, clínica ou asilo soa desumano, mas há casos que inviabilizam a manutenção da convivência familiar. Às vezes não há parentes para cuidar do idoso, noutras inexistem dinheiro para bancar a internação.
Esse impasse, permeado por avassaladoras doses de emoção, assola milhões de famílias que veem pais e mães sucumbindo à lenta falência das competências mentais. É uma cena impossível de definir em palavras. Pessoas marcadas pela energia inspiradora de grandes realizações foram consumidas por doenças silenciosas e condenadas à vida vegetativa.
Penso, cada vez mais, no peso que poderei significar para os familiares em breve. Leio, faço palavras cruzadas todos os dias, mantenho uma rotina de exercícios físicos e tento não incomodar meus filhos. Talvez seja insuficiente, mas tentarei, até o fim, não ser um fardo para meus afetos. Tomara que dê certo!