Quando os filhos se tornam adultos é comum fazer-se um balanço. Ao observar o comportamento dos herdeiros fazemos um comparativo entre aquilo que tentamos lhes ensinar por anos a fio para eles usarem no cotidiano.
Pais e mães praticam à exaustão o exercício da repetição. Parece que, assim que dormem, eles deletam tudo que ensinamos ou tentamos ensinar desde o despertar. Fruto da repetição e já crescidos costumam citar com bom humor os ditados usados como instrumento de convencimento.
As consagradas “palavrinhas mágicas” – como “obrigado”, “por favor”, “desculpe” e “por gentileza”, entre outras – atravessam gerações na tentativa coletiva e atemporal de tornar futuros adultos minimamente educados. Não tenho netos, mas imagino a dificuldade desta “educação oral” em tempos de tablets, celulares, inteligência artificial e tecnologia onipresente.
Entre as inúmeras tarefas desta missão de educar, ensinar humildade é a mais desafiadora. Afinal, vivemos em um mundo de ostentação, de busca incessante de visibilidade através do uso das redes sociais.
As telinhas multicoloridas massivamente exibem momentos felizes vivenciados em lugares paradisíacos na companhia de pessoas eufóricas, saudáveis, lindas e sorridentes. Tudo perfeito… não fossem os ilimitados recursos de melhorias que incluem o emprego de filtros, de truques de luz e manipulação de imagens graças à parafernália interminável de ferramentas corretivas capazes de criar cenários outrora impossíveis de imaginar.
Voltando ao desafio da educação dos filhos, o pedido de desculpas é de longe o mais complexo. Adepto da teoria de que é preciso dar o exemplo de acordo com as cobranças que faço aos meus sucessores, jamais me furtei à prática de olhar fixamente em seus olhos e dizer:
– Me desculpe. Eu não deveria ter feito isso. Errei e peço que me desculpe.
Fiz isso inúmeras vezes. E confesso que não me arrependo. Meus filhos aprenderam o ensinamento que para muitos soa pouco razoável. Isso, talvez, seja decorrência da falta de humildade que campeia mundo afora.
Ser discreto, humilde e cioso dos preceitos da boa educação é um desafio gigantesco. Mas vencê-lo constitui uma vitória que pais e mães sorvem com profunda felicidade.
Gilberto Jasper
Jornalista/[email protected]