Buenas!
Um brinde à vida! A tão complexa e necessária vida, composta de perdas e ganhos, de vitórias e derrotas, com um desfecho tão indesejado quanto inevitável. Todos sabemos disso, não precisava desperdiçar o tempo de meus leitores. Mas se é sabido, por que não vivemos de modo mais leve, menos afoito? Perder é do jogo, assim como ganhar. Morrer é inevitável, logo, viver é primordial!
Depois de uma introdução permeada por filosofia de boteco, quero aqui lamentar a maior perda dos últimos tempos: Pelé nos deixou antes da virada do ano. Uma verdadeira entidade internacional, Edson Arantes do Nascimento morreu aos 82 anos, após enfrentar um câncer de cólon. Descansou…
Vou repetir um clichê criado e alimentado por ele: quem nos deixou foi o Edson, que enfrentou a batalha contra o câncer e perdeu a partida, afinal, este resultado estava comprado desde o início dos tempos. Já o Pelé, ele não nos deixou, driblou todas as adversidades e emplacou um gol de placa, pois ele, a entidade Pelé, é eterna.
Desculpem a redundância, mas preciso introduzir uma nota explicativa: a expressão “emplacar” entrou para o futebol após Pelé driblar todo o time adversário e fazer um gol espetacular, em 1961, deixando boquiabertos 130 mil torcedores que lotavam o Maracanã. O saudoso jornalista Joelmir Beting pediu uma placa para lembrar aquele feito, que ganhou a placa.
Os feitos de Pelé estão eternizados em bronze, assim como o soco no ar para comemorar um gol ou a mítica camisa 10, que só passou a representar o craque do time após ele vestir o manto na Copa de 1958 para nunca mais tirar. Ou quando, após fazer o gol 1000, o maior feito da história do esporte bretão, ele lembrou que devíamos cuidar das criancinhas, eles, que teve uma origem pobre de criança negra no Brasil…
São tantos os fatos, que é compreensível o costume que ele próprio desenvolveu de separar o homem do mito, preferia citar-se na terceira pessoa.
Falando em pessoa física que se vai, faço uma reflexão. Sempre achei o sistema ocidental, em que os cadáveres são depositados em espaços públicos ou privados, um desperdício de espaço, para dizer o mínimo. Na França do século XVIII, após reformas urbanas, dezenas de pequenos cemitérios foram desfeitos, criando as Catacumbas de Paris. O espaço é um tanto mórbido, milhões de ossos e crânios decorando corredores, mas recomendo a visita!
Com a pandemia, vimos casos absurdos de pessoas sendo enterradas em valas comunitárias. Enquanto isso, na Índia, com toda aquela população, preferem cremar os corpos na rua ou lançar no rio, evitando o desperdício de terras e devolvendo o corpo para a natureza, às origens, garantindo a integração com a sua origem.
Mantendo a temática, viram a notícia de uma mulher condenada, agora em janeiro, por vender cadáveres nos EUA? Lá, um país com muita coisa que queremos imitar, é permitido a venda de corpos para estudos, com autorização dos familiares, é claro. Contudo, a proprietária da funerária resolveu ampliar o lucro, entregando cinzas falsas aos parentes e vendendo os corpos para pesquisas. Coisa pouca, foram pouco mais de quinhentos corpos…
Além desta notícia, li dias atrás que Nova Iorque é o sexto estado daquele país a autorizar o aproveitamento de corpos para adubo, sabiam? Antes de subirem num palanque horrorizados e pedindo intervenção da ONU, saibam como funciona.
Após autorização da família, eles são colocados em câmaras com matéria orgânica e aquecidos. Depois de um mês, a família recebe a terra fertilizada, pronta para adubar, talvez uma horta, quem sabe um jardim, podendo gerar frutos e flores para os entes queridos que aqui ficaram com suas memórias e, agora, com representatividade ecológica…
Pelé é um exemplo vivo disso, ops, falecido. Aliás, nem isso. O Edson que morreu. Eu chorei diante da televisão, não pelo seu passamento, que acabou por descansar, após um período de sofrimento físico devido ao câncer. Chorei, isto sim, de alívio pelo seu descanso e, também, pela memória do atleta exemplar que ele foi, considerado o atleta do século.
Sua memória jamais será esquecida. Ao falarmos de esportes, não só de futebol, a comparação será inevitável. Michael Jordan, no basquete, Tigerwood, no golfe, Guga, no tênis, todos foram chamados de Pelé dos seus esportes, pois são os melhores no que fizeram. Só Pelé foi Pelé, a referência.
Portanto, deixar o corpo do Edson num mausoléu poderia, muito bem, ser substituído por um jardim adubado pela compostagem de seu corpo, junto às árvores, com uma estátua, mais uma das tantas, homenageando sua grandiosa figura, como fazem os orientais, simbolizando a simbiose do homem com sua origem.
Não esqueçamos que, na origem bíblica, no Gênesis, está dito: “você é pó, ao pó voltarás.” Mas tem pó, como os do Pelé, que são eternos!