Buenas!
Adentramos um setembro que se apresenta primaveril, época em que as árvores retomam um vívido colorido, as pessoas sorriem com o findar de nosso inverno úmido e frio. Porém, vemos muito ranger de dentes, mas não de frio, devido aos embates ideológicos em defesa de candidatos às eleições que se avizinham.
Vivemos um período eleitoral intenso e tenso, para não perder a oportunidade cacofônica. Somos bombardeados por propagandas sem fim e debates entre os candidatos promovidos por empresas de comunicação que, fervorosamente, disputam o nosso tão valioso voto.
Assistiram o último debate? Foi a pergunta que pipocou ao longo da semana, superando os comentários sobre a novela das 8, digo, das 21h. Não tem paciência para isso? Deveriam, pois os debates são ferramentas valiosas para avaliar os que pleiteiam tua atenção e voto. Sabiam que eles só acontecem em períodos democráticos? No Brasil foram retomados há pouco mais de 30 anos…
O último foi até divertido, tivemos alguns momentos cômicos, muitos exageros, algumas fake news e uma porção de desrespeitos desnecessários. Tivemos vitoriosos? Derrotados? Tudo é relativo, diria nosso saudoso Albert, porém, as pesquisas estão aí, umas para um lado, outras para o outro; se for favorável ao meu candidato, são confiáveis, se não valorizam o meu, são manipuladas, opa pois!
Temos que os eleitores brasileiros nunca foram tão torcedores como agora. Diria mais, veneram seus postulantes, como se divindades fossem, ignorando seus defeitos terrenos, canonizando-os em vida. Ou seja, esquecem que a humanidade é caracterizada pela imperfeição. Eles têm contra si a lupa da exposição, não podem nem devem se esconder, logo, tudo é ampliado, estão, para ser educado, com a cara na vitrine.
Não sei vocês, caríssimos leitores, mas o meu primeiro debate foi antológico! Contava eu com parcos dezesseis anos, estava com o título eleitoral em mãos, recém saído do forno, almejado desde que comecei a acompanhar política, lá pelos dois meses de idade. Sempre fui precoce, admito, mas tive um mentor, o meu avô Silas lutou pela redemocratização, mesmo morando no interior do RS.
Desde pequeno o acompanhava ao escritório do partido, o antigo MDB. Ele já era aposentado da extinta viação férrea e atuava como um gerente sem remuneração, mesmo sem nunca ter exercido cargo eletivo. Eu, apesar de receber alguns convites, sempre resisti à tentação de me envolver em política. Não deve ser fácil abrir mão de sua individualidade em prol de representar interesses coletivos – é o mínimo que espero de um político sério – e eu prezo muito minhas individualidades…
Voltando ao meu primeiro debate, eu assistia na televisão os candidatos de então: Lula, vulgo sapo barbudo, Collor, o caçador de marajás, Ulisses Guimarães, o pai da constituição, Mário Covas, do recém fundado PSDB, o Maluf, famoso pela frase: “rouba mas faço!, o “meu nome é Enéas”, famoso pelo jargão com seu nome, Leonel Brizola, ex-governador do RS e do RJ, o caudilho dos pampas, dentre outros tantos…
Como disse, foi um debate inolvidável! O Brasil e os brasileiros nunca viram um debate televisivo, ela tornou-se popular durante os anos 1970, quando eleições eram proibidas, mais ainda com personalidades tão sui generis. Lula ainda era um sindicalista nervoso, Ulisses bradava a constituição recém aprovada como sua bandeira, dentre outros.
Aquele debate foi um divisor de águas, o primeiro em que a mídia demonstrou todo seu poder, confirmando ser o quarto poder. Ela ajudou Collor a se eleger e ele fez uma administração terrível: confiscou a poupança das pessoas, algo absurdo, caindo após ganhar um carro popular de presente, fora os outros delitos.
Aliás, para ver o nível da situação, seu tesoureiro desapareceu do país e, surpresa nenhuma, foi assassinado. E as pessoas que tiveram as poupanças confiscadas? As que estão vivas cultivam um trauma incurável, algumas perderam negócios e tiveram a vida alterada pelo vencedor daquele debate. E como está o vencedor daquele primeiro debate? Hoje é um senador da república e faz coleção de carros de luxo, sendo investigado por suspeitas de corrupção.
Mas quem me chamou a atenção foi o Brizola. Um pouco por bairrismo, o gaúcho afirmava com ênfase que o caminho para o crescimento era a educação qualificada de um povo. Ele citava os CIEPs, as escolas em tempo integral que Darcy Ribeiro, seu secretário da educação, criou no Rio de Janeiro e pretendia espraiar Brasil adentro…
Eu estava terminando o ensino médio naquele ano e, do alto de meus dezesseis anos, sabia da importância de uma escola em turno integral, pois não a tive! Estudei em escola pública, convivendo com greves dos professores por salários dignos desde que a greve foi permitida, ou seja, quando acabou a ditadura, em 1985.
Naquele debate, eu fiquei com essa proposta na mente. No debate que vi semana passada, só vi acusações sem fim, perda de controle e desrespeitos inadmissíveis, para dizer o mínimo. Ainda assim, não abro mão do meu direito – do nosso, caro amigo leitor-eleitor – de assistir a um debate pré-eleições presidenciais.
Não se esqueçam de que estamos entregando para eles a chave da nave em que viajamos, terceirizando a missão de nos conduzir rumo ao infinito e além. Se o piloto não for qualificado, poderemos vagar sem rumo e só lamentar: por que eu não assisti àquele debate?