Buenas!
A sociedade está doente! Sei disso, pois, quando achamos que batemos no fundo do poço, somos surpreendidos por nossos contemporâneos. É certo que vivemos outrora tempos sombrios, tempos pré-históricos, da idade das trevas, das guerras sem fim, quando homens abriam mão de sua racionalidade. Porém, em pleno século XXI, quando temos acesso a tudo – eu disse TUDO – através de nossos computadores portáteis de bolsa, não é admissível agirmos de forma irracional. Mas sempre há aqueles que desmentem o indesmentível.
Dia destes fiz uma lista de atrocidades que considerei insuperáveis. Musa das ilusões, porque insisto em te venerar? Como esperado, rapidamente tal lista foi ultrapassada por atitudes impensadas, porém, tão humanas, apesar de desumanas… Inclusive, larguem esse texto e foquem em algum jogo de videogame ou um uma série divertida, deixem a realidade para os fortes de estômago. Não? Vão continuar? Está bem, não digam que não avisei…
No interior do Rio de Janeiro, um adolescente foi assassinado por cinco de seus amigos de infância após suspeitarem que ele roubou o celular de um deles. Bateram nele até que acharam que exageram e, para que ele não entregasse a surra, optaram por enforcar o “amigo de infância” com um casaco.
Poderiam parar por aqui, era atrocidade suficiente para um dia, mas, não satisfeitos, abriram um rasgo em sua barriga e colocaram uma pedra grande, para garantir que afundasse em um rio. Após presos, acusaram-se entre si, como se tivesse como atenuar tal barbaridade.
Seguindo em frente, pois os fatos costumam atropelar a razão, um médico, também no Rio, foi flagrado abusando sexualmente de mulheres durante o parto. Enquanto obstetras realizavam a cesariana, ele se “esconde” atrás da cortina do procedimento cirúrgico, seda a parturiente ao ponto dela ficar grogue, não para evitar a dor do parto, mas sim, para abusar da mulher no momento mais nobre de sua existência, quando se torna mãe…
Durante uma cesariana a mãe fica anestesiada somente da cintura para baixo para que possa conversar e, no ápice de sua existência, acolher seu rebento recém chegado ao mundo, o mesmo mundo cruel em que vivem crápulas como esse médico que estudou por uns dez anos e fazia algo de uma baixeza indescritível, não fosse o vídeo feito pelas enfermeiras flagrando seu ato.
Ainda há o tiroteio no Paraná, em que um simpatizante de Bolsonaro, que passeava com a esposa e filha pequena em seu carro quando, sentiu-se ofendido porque um simpatizante de Lula comemorava seu aniversário. Passa a proferir impropérios contra a festa. O segundo reage, jogando coisas contra o veículo do cidadão.
O que faz o primeiro? Sendo um policial treinado, preparado para ter equilíbrio em momentos de tensão, saca sua arma, abandona sua família e parte para cima dos que ali estavam, descarregando sua arma. O outro reage armado também, ambos caem, sendo o primeiro atingido por pontapés raivosos de um participante da festa. O segundo morreu, o primeiro está no hospital.
A semana já estava terrível, quando chegou a notícia de que um policial militar do Oeste do Paraná matou oito pessoas: sua esposa, seus três filhos, sua própria mãe e um irmão, além de dois jovens que estavam passando na rua. Para tanto, precisou se deslocar entre duas cidades e três casas diferentes. Segundo a imprensa, ele mandou áudios dizendo que a motivação era porque não aceitava a separação da esposa. Entretanto, não há nada na face da terra que justifique ato similar, só podemos lamentar o fato de que a sociedade está doente…
A miserabilidade humana e o ódio são algumas das possíveis explicações para tais absurdos. Quem tem alguma noção de mundo vê que a política do ódio é deveras eficaz, e não é de hoje. Durante a revolução federalista de 1893 e depois em 1923, irmãos matavam-se em defesa de seus políticos de estimação, degolas e mortes à profusão entre chimangos e maragatos. Tudo por causa de disputas políticas promovidas por políticos e latifundiários, os verdadeiros donos do poder e, infelizmente, das vidas alheias.
Porém – novamente resgato o “porém” como último fio de esperança que nos resta – passaram-se 100 anos desses eventos, duas guerras mundiais, outras tantas revoltas e revoluções, milhares, digo, milhões de pessoas morreram por darem ouvidos às palavras de políticos e, com isso, como um vulcão ativo, deixa extravasar seu ódio figadal, sua bílis interior, como uma erupção de violência, nem sempre verbal…
Apesar da evolução humana, continuamos agindo motivados pelo ódio, o mesmo que moveu Caim a trucidar seu irmão Abel. Matar um amigo de infância, agir como um animal no cio, abusar de mulheres sedadas durante o parto, brigar e trocar tiros por causa de ódios políticos, matar a própria família por decepção amorosa, são atitudes tão inexplicáveis quanto humanas. Ou seja, apesar de eu, um ser racional, fazer força para não acreditar que isso é possível, é tão natural de nossa parte que chega a ser bíblico. Não deveria espantar-me.
O que está faltando? Equilíbrio, diriam Sidartha Gautama, o famoso Buda. Ele buscou tanto o equilíbrio que atingiu o nirvana, o chamado paraíso. Ou seja, se um homem conseguiu, há 2500 anos atingir o equilíbrio que o tornou divino, posso considerar que há evolução possível.
Talvez – e insisto nesse indicativo de possibilidade, pois nunca sabemos o dia de amanhã, certamente novas atrocidades irão nos perseguir -, possamos, como maioria, sermos menos silenciosos, e ofuscar estas brutalidades, encontrando o nosso equilíbrio…
Esse “talvez”, bem poderia não ser somente mais um “talvez”…
