Câmara aprova moção de repúdio à concessão de asilo à ex-primeira-dama do Peru: “Criminosos descondenados agora protegem seus parceiros”
Brasília, 23 de abril de 2025 – A Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (23) uma moção de repúdio à concessão de asilo diplomático à ex-primeira-dama do Peru, Nadine Heredia, condenada em seu país a 15 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. A iniciativa foi apresentada pelo deputado Luciano Zucco (PL-RS), líder da oposição na Câmara, e teve apoio majoritário dos parlamentares presentes.
O documento denuncia a decisão do governo brasileiro de abrigar a ex-primeira-dama, transportada inclusive em avião da Força Aérea Brasileira (FAB), como um ato de afronta à moralidade administrativa, à imagem internacional do país e à Convenção sobre Asilo de 1954, que veda proteção a condenados por crimes comuns. Heredia foi investigada no mesmo escândalo de corrupção que envolveu a construtora Odebrecht, e usou, segundo o Ministério Público do Peru, recursos desviados de contratos com o governo brasileiro para financiar campanhas eleitorais fraudulentas.
“É o cúmulo da inversão moral. O Brasil, que foi protagonista da Lava Jato e chegou a prender figuras como Marcelo Odebrecht e até o próprio Lula, agora concede abrigo político àqueles que roubaram milhões do povo latino-americano. É como se os criminosos descondenados estivessem hoje protegendo seus antigos parceiros de corrupção”, afirmou Zucco durante a sessão.
A moção também critica os custos públicos da operação de transporte de Heredia, classificando-os como “desnecessários e lesivos aos cofres públicos”. O uso da FAB, segundo os parlamentares oposicionistas, agrava ainda mais o simbolismo do episódio, transformando o Brasil em um “porto seguro para criminosos do colarinho branco”.
Proximidade com a Lava Jato
O caso guarda profundas semelhanças com os escândalos revelados pela Operação Lava Jato, considerada a maior investigação anticorrupção da história do Brasil. Heredia e o marido, o ex-presidente Ollanta Humala, teriam recebido recursos da Odebrecht e do governo venezuelano em troca de favorecimentos políticos e contratuais. Parte desse dinheiro, segundo autoridades peruanas, foi desviado de obras financiadas pelo BNDES e por empreiteiras brasileiras envolvidas nos esquemas que também levaram Lula à prisão antes de sua condenação ser anulada pelo Supremo Tribunal Federal.
“A política externa do governo atual virou um instrumento de blindagem para os amigos da velha corrupção latino-americana. Enquanto se persegue opositores e patriotas no Brasil, oferece-se guarida diplomática a condenados internacionais. Isso é inaceitável”, reforçou Zucco.
A moção será agora encaminhada à Presidência da República e ao Ministério das Relações Exteriores, com pedido formal de revisão da medida e respeito aos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil em tratados de combate à corrupção, como a Convenção de Mérida das Nações Unidas.