O FitoPampa é um projeto do Grupo de Pesquisa e Extensão Ecos do Pampa da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS) e Pós-graduação em Ambiente e Sustentabilidade (PPGAS). A iniciativa busca oferecer uma alternativa sustentável ao promover a produção de bioinsumos a partir de óleos essenciais extraídos de plantas nativas do bioma Pampa. Em parceria com a Fiocruz-RedesFito e a empresa Nanoscoping, especializada em nanotecnologia, o projeto recebeu R$ 2,6 milhões da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) por meio do edital de Bioeconomia 2024. Atualmente, conta com nove bolsistas diretamente envolvidos, além de outros integrantes do Ecos do Pampa.
Segundo o MapBiomas, o bioma Pampa, que se estende pelo sul do Brasil e parte dos territórios argentino e uruguaio, sofreu a maior perda proporcional de vegetação campestre no Brasil. Entre 1985 e 2023, a região perdeu 2,9 milhões de hectares de vegetação nativa, o equivalente a 58 vezes a área do município de Porto Alegre (RS). Essa redução representa 32% da cobertura original do bioma e está diretamente ligada à expansão agrícola, especialmente para o cultivo de soja. A professora Adriana Trevisan, coordenadora do FitoPampa, destaca que o projeto surge como resposta a esse cenário de degradação ambiental. “Trata-se de um território que tem sido muito degradado. Quando você propõe sistemas produtivos que conservam a biodiversidade, o solo e a água, está promovendo tanto o enfrentamento da crise climática quanto a restauração do próprio ambiente”, explica.
O desenvolvimento do projeto segue diversas etapas. Inicialmente, foi realizado um levantamento e mapeamento das espécies vegetais por meio de drones, seguido da poda e extração dos óleos essenciais. A bolsista Tauana Isabel, que trabalha com os parâmetros de coleta para extração, ressalta que muitas espécies nativas são frequentemente negligenciadas, mas possuem grande potencial químico e produtivo. “É uma alternativa para os produtores valorizarem essas espécies, como a carqueja, que está cada vez mais rara. Precisamos evidenciar sua importância e incentivar sua conservação”, afirma.
Após a definição do arranjo produtivo local, o projeto iniciou o convite a 30 produtores e produtoras da agricultura e pecuária familiar para participar do cultivo e extração dos óleos essenciais. Os participantes passarão por um processo de capacitação e receberão apoio técnico da equipe do projeto e dos estudantes do curso de Agronomia.
Para a produtora Carla Schmidt, o FitoPampa representa uma oportunidade fundamental diante dos desafios enfrentados pela agricultura no Bioma Pampa. “O projeto vem em um momento muito importante, em que nós, agricultores, estamos sofrendo com as mudanças climáticas. Culturas tradicionais de verão, como milho e abóbora, não são adaptadas à seca e à escassez de água do Pampa. Mesmo com reservatórios e açudes, não conseguimos sustentar a plantação. A importância do projeto está justamente nisso: ele trabalha com uma cultura nativa, de fácil acesso e que ajuda na preservação ambiental. Além disso, beneficia diretamente quem trabalha com gado e com culturas de inverno, como cebola e alho”, destaca.
A professora Adriana Trevisan reforça a importância dessa troca de conhecimentos entre universidade e produtores locais. “Nosso objetivo é unir o saber das pessoas do campo com o conhecimento científico que produzimos na universidade, construindo um terceiro saber”, pontua.
Após a extração, os óleos essenciais serão enviados para a empresa parceira, a Nanoscoping, onde passarão pelo processo de nanoencapsulamento para aumentar sua estabilidade e eficácia. Além de seu uso como alternativa aos agrotóxicos, os bioinsumos também poderão ser comercializados, gerando uma nova fonte de renda para os produtores envolvidos.
Giuliano Barros, bolsista de Desenvolvimento Tecnológico Industrial (DTI), ressalta a necessidade de substituir os insumos sintéticos, que contribuem para a degradação ambiental, por alternativas naturais. “Se queremos garantir a continuidade da agricultura e da pecuária, precisamos adotar práticas mais sustentáveis”, conclui.