Gilberto Jasper
_*Jornalista/[email protected]*
Como faço todos os finais de semana, sábado me deliciei com mais uma crônica repleta de humanismo do médico J. J. Camargo, craque das letras e do bisturi. O título é instigante: “Se pudesses escolher, o quanto viverias?”.
Ao longo da crônica ele discorre com sensibilidade sobre o despreparo das pessoas diante do final da vida de nossos afetos. As descobertas da medicina, aliadas aos avanços da indústria química e farmacêutica, aumentaram significativamente a longevidade. E trouxeram problemas.
Um dos fenômenos desta evolução é a legião de pessoas idosas, cujos cuidados representam um enorme desafio às famílias. Alguns não abrem mão de cuidar dos pais e avós até o final de seus dias. Outros, sem condições financeiras ou por falta de informação, buscam a internação em instituições que nem sempre atendem às expectativas dos familiares e quase sempre oneram as finanças familiares.
É triste conviver com pais e avós que apesar de vivos perderam a consciência. Eles vivem numa realidade paralela, não reconhecem os entes queridos. Muitas vezes são agressivos e fonte permanente de depressão de filhos e netos.
A doença de Alzheimer é uma tortura que massacra o paciente e familiares. Impõe um desafio de paciência e compaixão diárias. J. J. Camargo conta a história de rapaz cujo pai é acometido por esta devastadora doença. Ao visitar o pai todos os dias, este pergunta:
– Que dia é hoje?
Ao que o filho responde:
– Hoje é Dia dos Pais! – e em seguida dá um forte abraço e um beijo no idoso que fica desconcertado.
“Você só vive uma vez, mas, se você viver certo, uma vez é o bastante”. A frase abre a crônica publicada no caderno “Vida” de Zero Hora e reflete a importância de como viver ao longo da nossa trajetória. Todos conhecem histórias de abandono, pouco caso e desleixo com idosos. Mas também temos episódios de amor, de cuidados e zelo até o final. Ao longo dos anos tento ser um pai presente, amoroso, responsável, participativo. Tenho filhos amorosos e interessados, mas eles têm seus próprios problemas e interesses.
Já disse a eles que, se for possível, pretendo encontrar uma instituição para autointernação para não ser um fardo para eles. Hoje ficam furiosos com a ideia. E no futuro?