Gilberto Jasper
Jornalista/[email protected]
Durante muitos anos convivi com a ideia de que depois de décadas de trabalho duro todo brasileiro cultivava dois sonhos: conquistar a sonhada aposentadoria e adquirir uma casa na praia ou um sítio para curtir a vida.
A aposentadoria há muito tempo deixou de ser o eldorado que compensaria todos os sacrifícios de uma vida inteira ao trabalho. Para ter sossego depois da parada profissional é preciso ter economizado o suficiente para complementar renda suficiente para viver com um mínimo de conforto.
Parar totalmente de trabalhar para ficar em casa para curtir a vida acarreta muitas consequências – inclusive de saúde física -, decorrentes da inatividade. A saúde mental também é impactada. O convívio com colegas subitamente é interrompido e por vezes o aposentado se vê solitário.
Os primeiros meses da aposentadoria são narrados como “de um sonho realizado”. Sem necessidade de acordar cedo, fazer a barba ou maquilagem a cada manhã, escolher roupas e cumprir horários, o cotidiano parece perfeito. Também não é preciso dormir cedo ou deixar as confraternizações com cerveja gelada exclusivamente para os finais de semana.
Aos poucos, no entanto, o vazio cresce, torna-se imenso, reflete na saúde mental. Por isso, inúmeras empresas e até órgãos públicos trabalham na preparação dos trabalhadores para a parada. Geralmente nos dois últimos anos de atividades são promovidos palestras e cursos, despertando vocações e potencialidades, inclusive para a criação de microempresas.
Muitos relutam em participar deste preparo para o ócio. Dizem ser momento para repouso, lazer, viagens. Atuei como palestrante num destes cursos. É incrível a transformação que acontece ao longo das atividades. À medida que consultores, pequenos empresários, artesãos, escritores e artistas plásticos davam depoimentos o entusiasmo crescia.
– A gente pensa que somos a única pessoa “perdida” após tantos anos de dedicação ao emprego para o sustento da família, pouco tempo para o lazer. Aos poucos descobrimos o direito de curtir a vida, realizar tarefas agradáveis com amigos, redescobrindo novas vocações – afirmou um palestrante.
Encontrar novas motivações é o segredo! Aqui fala um aposentado há seis anos que não consegue parar quieto.