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É duro envelhecer. Não falo das dores, dos inúmeros medicamentos e das restrições de vários tipos. Falo das dificuldades de convivência neste mundão dominado pela tecnologia, consumismo e necessidade cada vez maior de ostentação.
Nos estabelecimentos comerciais há caixa especial, o mesmo ocorrendo com a vaga “preferencial” assegurada no estacionamento. Mas basta abordar um infrator – gente que adora ocupar as vagas de deficiente, grávidas e idosos – em dias de lotação, ser abordado para sermos alvos de todo tipo de ofensa. As grosserias são múltiplas. Vão do “velho broxa” até “vai cuidar dos netos”, passando por “morreu e esqueceu de deitar” e “tua época já era, vai pro asilo”.
Parece fácil enfrentar estas situações no cotidiano. Basta se fazer de surdo que tudo passa. Mas no fundo, isso enche o saco, magoa e dá muita raiva. Quando vamos à academia ou participamos de eventos sociais e nos divertimos pra valer, sempre aparece um engraçadinho para disparar um comentário cheio de veneno e canalhice:
– Que velho (a) ridículo! Não se enxerga… com esta idade, usando estas roupas e ainda por cima bebendo e dançando como se fosse um (a) guri (a)! – são expressões muito mais comuns do que possa parecer.
A depressão é um dos maiores inimigos que afligem a nós, velhos. Com o passar dos anos é cada vez menor o contingente de amigos ou velhos companheiros de faculdade, ex-colegas de trabalho e parceiros de vida. Aos poucos, o que falamos e nossas piadas não têm graça alguma. Ninguém ri ou se diverte. Ficamos com cara de trouxas.
Nossa linguagem, gírias e referências são totalmente desconhecidos da maioria das pessoas de nossas relações cotidianas. O resultado é o isolamento em casa, no sofá, vendo tevê pilotando o controle remoto. Segue o atrofiamento dos órgãos inferiores que gera dores que desestimulam as caminhadas, a ida às praças e aos parques. A busca de contato com outras pessoas para arejar a cabeça, sair da rotina caseira de remédios, problemas, insatisfação, autoexílio.
Poucos idosos têm a bênção de ter a atenção dos filhos e netos. Às vezes são confinados em clínicas porque a família não tem condições de manter um cuidador. Não é fácil ficar velho, acreditem!