Edição de Chico Bruno
Reportagem de capa
ISTOÉ: O que está acontecendo com Lula?
Em um País marcado pelo trauma da lenta agonia de Tancredo Neves, e agora politicamente dividido, as duas cirurgias para corrigir o sangramentos no cérebro do presidente, fizeram renascer a desconfiança entre os brasileiros. Junta médica afirma que ele vai se recuperar com tranquilidade, mas os questionamentos sobre suas condições de saúde para cumprir um novo mandato, ou mesmo concluir o atual, serão cada vez mais frequentes e legitimos.
Manchetes dos jornais
Valor Econômico – Não circula aos domingos
O ESTADO DE S.PAULO – PF prende general Braga Netto por interferir em investigação sobre golpe
O GLOBO – General quatro estrelas, Braga Netto é preso em investigação de golpe
FOLHA DE S.PAULO – PF prende Braga Netto sob acusação de interferir na apuração da trama golpista
CORREIO BRAZILIENSE – Preso
Destaques de primeiras páginas, fatos e bastidores mais importantes do dia
Assunto do dia – A Polícia Federal prendeu, na manhã deste sábado, 14, o general da reserva Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PL) em 2022. O militar foi detido em sua residência, localizada no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, sob a acusação de obstrução da Justiça. A prisão preventiva foi solicitada pela PF e autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A prisão de Braga Netto, o primeiro general quatro estrelas preso na era democrática do País, está relacionada às investigações sobre a tentativa de golpe de Estado que ocorreu após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022. A operação que levou à prisão do militar contou com o apoio do Exército. Braga Netto ficará sob custódia do Comando Militar do Leste e será mantido na Vila Militar, na zona oeste do Rio. De 2016 a 2019, o general foi chefe do Comando Militar do Leste. A decisão foi tomada com o apoio do procurador-geral da República, Paulo Gonet. Além do mandado de prisão, a operação cumpre dois mandados de busca e apreensão, e uma medida cautelar diversa da prisão, contra indivíduos acusados de dificultar a produção de provas durante a instrução processual penal, informou a PF em nota. “As medidas judiciais têm como objetivo evitar a reiteração das ações ilícitas”, diz o texto. A defesa do general da reserva afirmou neste sábado, 14, que vai comprovar que ele não atuou para atrapalhar as investigações da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022.
Silêncio rompido – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reagiu na noite deste sábado à prisão de seu aliado, o general e candidato a vice-presidente na chapa de 2022, Walter Braga Netto. Sem citar o Supremo Tribunal Federal (STF) ou o ministro Alexandre de Moraes, Bolsonaro questionou o argumento que levou Braga Netto à prisão — de que ele estaria tentando obstruir as investigações. “Há mais de 10 dias o ‘inquérito’ foi concluído pela PF, indiciando 37 pessoas e encaminhado ao MP. Como alguém, hoje, pode ser preso por obstruir investigações já concluídas?”, disse o ex-presidente. A declaração de Bolsonaro rompe um silêncio de mais de doze horas desde a operação que conduziu Braga Netto à detenção. Na bancada do PL, apenas 21 dos 103 parlamentares se manifestaram.
QG do golpe funcionava em mansão do Lago Sul – Alugada pelo PL, no começo de 2022, para sediar o comitê de campanha dos candidatos do partido à Presidência da República, a casa localizada no conjunto 8 da QI 15, no Lago Sul, entrou no alvo da investigação da Polícia Federal (PF). No inquérito apresentado ao Supremo Tribunal Federal (STF), em novembro, o imóvel foi chamado de “QG do golpe” por causa da atuação do então candidato a vice na chapa de reeleição de Jair Bolsonaro, general Walter Braga Netto, um dos 37 indiciados pela PF. O endereço — em que foram encontrados documentos que ligam o militar à trama golpista — recebeu visitas frequentes de outros indiciados. O que o Ministério Público quer saber, agora, é se houve uso de dinheiro dos fundos Eleitoral e Partidário para manter uma estrutura paramilitar com objetivo de impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência da República. Para juristas, caso a PF consiga provar que o comitê de campanha do Lago Sul foi usado como uma das bases da trama golpista que culminou nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, o PL estará em maus lençóis, com risco, inclusive, de perder o registro do partido na Justiça Eleitoral. Foi no segundo andar da mansão que Braga Netto reuniu seu staff de assessores, a maioria oficiais do Exército.
A queda de braço de 2025 – Depois da guerra pelas emendas parlamentares, as indicações para as agências reguladoras prometem ser o grande embate entre os poderes Executivo e Legislativo. Hoje, são 15 vagas disponíveis nas instituições. Até o final do mês, serão 18. E esse número vai subir para 20 até o início do próximo ano.
Questão de percentual – As dificuldades em fechar as indicações das agências, e votar as que já foram feitas, se deve à mudança de “padrinhos”. No governo Bolsonaro, os ministros indicavam a metade das vagas das 11 agências e o Congresso ficava com a outra metade. O governo Lula quis mudar isso. O Poder Executivo indicaria 70% das vagas e os congressistas, 30%. Não colou.
Pegar ou largar – Até aqui, o governo tenta resolver a conta-gotas. Aceitou a indicação do senador Eduardo Braga (MDB-AM) para uma vaga na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e outra do senador Otto Alencar (PSD-BA) na Agência Nacional de Petróleo (ANP). É um meio-acordo. E não resolveu tudo. Se não repassar metade das 20 vagas, a briga vai continuar.
O que preocupa o PL – A prisão do general Walter Braga Netto dividiu o PL. Um segmento age como se a legenda não tivesse nada a ver com isso e trata de manter distância regulamentar do suposto planejamento de golpe de Estado investigado pela Polícia Federal (PF). Outro segmento, mais próximo do ex-presidente e grato a ele pela projeção política, quer que a legenda se dedique, dia e noite, a dizer que tudo não passa de uma armação para sufocar os conservadores politicamente. Essa é a posição, por exemplo, da líder da minoria na Câmara dos Deputados, Bia Kicis (PL-DF). Mas num ponto todos concordam: Bolsonaro é o maior cabo eleitoral do partido e necessário nos palanques de 2026. Se no PT a maior preocupação, hoje, é a saúde do presidente Lula, no PL a apreensão se dá pelo que alguns chamam de “capacidade respiratória eleitoral” de seu maior ativo — Bolsonaro. O fato de estar inelegível pesa, mas não acaba com o PL, porque o ex-presidente sempre poderá fazer o papel de vítima nos eventos partidários pelo Brasil. Agora, se Bolsonaro for preso, a situação se complica. Isso porque, para alguns integrantes do partido, enfraquece a tese — que os bolsonaristas tentam empreender — de que o ex-presidente não teve qualquer participação nos episódios. Inclusive, viajou para os Estados Unidos em 30 de dezembro de 2022.
Anotações expõem coronel – O coronel Flávio Botelho Peregrino, em cuja casa a Polícia Federal cumpriu ontem mandado de busca e apreensão, está na mira dos investigadores desde que foi apreendido com ele um manuscrito que dizia “Lula não sobe a rampa”. Também entre as anotações do militar foi descoberta uma anotação na qual há um grupo de perguntas e respostas que, segundo a PF, confirmam que Walter Braga Netto pressionou o pai do tenentecoronel Mauro Cid, general Mauro César Lourena Cid, a dar detalhes da delação fechada pelo ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro. O documento consta do mandado de prisão do general da reserva, assinado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Um assessor da campanha de Bolsonaro confirmou ao Correio que Peregrino era, também, uma das presenças mais frequentes no QG do golpe, o comitê da campanha do ex-presidente, no Lago Sul: “Ele e mais dois ou três coronéis estavam sempre com Braga Netto”.
Netto caiu em armadilha de família Cid – Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro dizem que os detalhes da prisão do general Walter Braga Netto reforçam uma suspeita antiga: de que ele teria caído em uma espécie de arapuca armada pelo general Mauro Lourena Cid, pai do tenente-coronel Mauro Cid. Mensagens mostram que Lourena Cid procurou Braga Netto em setembro do ano passado, para garantir que seu filho não estava fazendo delação premiada, mesmo após a colaboração já ter sido fechada e homologada pelo Supremo Tribunal Federal. Braga Netto, relatam interlocutores de Bolsonaro, custava a acreditar que um integrante das forças especiais do Exército (“kids pretos”) como Mauro Cid entregaria companheiros de farda e de governo. Assim, ele sentiu-se mais confortável para conversar com pessoas que posteriormente poderiam fornecer informações à PF sobre a suposta trama golpista. Braga Netto, neste processo, teria inadvertidamente produzido provas contra si e outros implicados.
Impostor – O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) postou em uma rede social vídeo no qual sugere que um projeto da ex-senadora Simone Tebet (MDB), hoje ministra no governo Lula (PT), seria de sua autoria. O projeto, de 2021, foi aprovado em votação simbólica pelos deputados. Nikolas foi o relator no plenário da Câmara. O Painel buscou contato com o deputado, mas sem retorno.
O União Brasil vai pedir mais espaço no governo – Um dos nomes do governo com mais trânsito no Congresso, o ministro do Turismo, Celso Sabino, afirmou em entrevista ao GLOBO que a pressão dos partidos por mais espaço no governo é “constante”, mas que tende a aumentar após a eleição para as presidências das duas Casas. Deputado licenciado do União Brasil, Sabino afirma que defenderá o nome do líder de seu partido na Câmara, Elmar Nascimento (BA), como ministro. O parlamentar foi preterido pelo PT na disputa pela presidência da Casa e pleiteia um cargo na gestão desde o começo do mandato.
Lula orienta PT a focar no Senado em 2026 – Com o objetivo de conter um possível avanço da oposição no Senado em 2026, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou ao PT que as candidaturas vistas como mais competitivas do seu arco de alianças mirem uma vaga na Casa, em vez de disputar para governador. O plano deverá diminuir o número de postulantes às chefias de Executivos estaduais, deixando o partido livre para formar chapas, por exemplo, com siglas como PSD, MDB e Republicanos.
Reeleição em assembleias testa articulação de governadores em cinco estados – Na transição para a segunda metade do mandato, governadores de cinco estados receberam um alerta vindo de suas Assembleias Legislativas. Após as eleições municipais, 14 Casas espalhadas pelo país já escolheram quem será o presidente a partir de fevereiro. Em Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte e Roraima, os comandos não serão ocupados por aliados do Executivo, o que exigirá trabalho dobrado na articulação na reta final.