Buenas!
Alguém aqui tira férias para descansar? Não é o meu caso, apesar de invejar aqueles que conseguem se atirar numa cadeira de praia, seja em Cancun, seja em Cidreira. Sou daqueles que não para dentro de um hotel ou pousada, afinal, aprendi uma frase desde os tempos de universitário: “não se dorme em cima de euros!”
No périplo pela Itália que concluí há pouco, caminhei de 12 a 15 km por dia! Isso segundo os aplicativos que a gente carrega nos telefones móveis, que não me deixam contar vantagem sozinho.
E, se tiverem tempo e interesse, perguntem se eu queria outro tipo de férias. Claro que não! Conforme o planejado, além de rever maravilhas, como Roma, Veneza e Florença, acrescentei dez novas cidades italianas ao meu curriculum…
Não recomendo tanta correria, ainda mais se a pessoa tiver abandonado o estilo mochileiro na primeira viagem internacional que fez e nunca mais encontrou a mochila dentro do armário.
Até para jovens cansa trotear ruas mundo afora, dormir em camas estranhas, algumas vezes em quartos coletivos. Mas não era o único, os albergues e hostel na Europa apresentam a vantagem de conviver com jovens dos 18 aos 78.
Não dormi em todas as 13 cidades que visitei, usei da estratégia do bate-e-volta, escolhendo algumas como base de apoio. Foram tantas igrejas, museus e ruelas descobertas ao longo destes dias, que estou até agora fazendo contas para lembrar de tudo que visitei. Uma viagem na história que formou a sociedade ocidental.
Nápoles e Capri são famosíssimas, valem muito, mas cito Sorrento, pequena e pertinho de Pompéia, vale somar as duas, parecem saindo de um filme. Assisi, como escrevem os italianos, é um caso à parte, vale a visita, duas igrejas espetaculares, com afrescos imperdíveis de Giotto, o mestre da transição do gótico para o renascimento.
O mestre Giotto também está em Florença e Pádua, com obras que são patrimônio histórico da humanidade, ficarão decalcados na minha memória. Bolonha, que fica pertinho das duas, merece a sua visita, cidade das torres medievais e das arcadas comerciais, assim como Modena, todas com igrejas construídas muito, eu disse, muito antes do Brasil ser apresentado ao mundo ocidental pelos portugueses…
E Roma não há o que dizer, é a cidade eterna, apesar dos romanos, dos bárbaros turistas, digo, apesar dos bárbaros medievais e dos turistas que atacam a cidade aos borbotões. São tantas igrejas e esculturas que a cidade pede diversas viagens.
Recomendo que, caso planejem uma viagem até lá, atentem para o Coliseu e Phanteon, mas façam o dever de casa: uma pesquisa decente sobre Michelangelo e Bernini. Só depois de aprovados numa prova dissertativa sobre ambos, receberão o visto rumo a Roma…
Detalhe importante. Após aterrar na velha bota, todos os deslocamentos foram feitos de trem. Os regionais são mais lentos e, por isso mesmo, mais baratos. Mas, algumas vezes, investi nos famosos trens-bala, que rodam a 300 km/h, conectando as principais cidades europeias e italianas com rapidez e respeito aos horários previstos!
Aí faço uma pergunta que já sei a triste resposta: por que nós, brasileiros, decidimos eliminar o trem de passageiros de nossas vidas? Respondo, com pesar, que este tipo de atrocidade lesa-pátria aconteceu porque damos poder absolutista aos nossos políticos.
Eu ainda não havia deixado o ensino fundamental na metade dos anos 1980 quando fiz minha primeira viagem internacional, ops, intermunicipal, deixando minha cidade pela primeira vez, e de trem! Vim para a capital gaúcha com meus avós – seu Silas era aposentado da viação férrea – grudado na janela, encantado pelo barulho da locomotiva a óleo.
Nos idos dos anos 1990, os trens, após anos de sucateamento, foram vendidos ou largados para a ferrugem do tempo. Os de carga ainda sobrevivem, mesmo que em quantidade irrisória, já os de passageiros, foram quase deletados da história brasileira. Há alguns no Paraná e no interior do RS, mas servem somente para turismo, trajetos curtos…
Quando contava isso para meus vizinhos de poltrona nos trens europeus, recebia em resposta uma cara apavorada e um WHAT?, que posso traduzir livremente com um porquê?, com espanto e incompreensão.
Sim, sabemos que a indústria automobilística foi fundamental neste processo de abandono dos trens no Brasil, mas por que deixamos? Porque somos brasileiros e temos o costume centenário de deixar tudo nas mãos dos políticos…
Já se falou em criar uma linha de trem de passageiros entre São Paulo e Rio de Janeiro, mas não teve evolução o projeto. Enquanto isso, na China e na Europa, há investimentos rotineiros em novas linhas e trens mais modernos. E aqui? Aqui é o Brasil…
De volta à rotina rodoviária, vou trabalhar pelo bom andamento deste país e suas rotas rodoviárias, de preferência com um número menor de acidentes em nosso trânsito.
Contudo, confesso aqui no pé da página, estou contando os dias para embarcar em um trem novamente! Fazer o quê se tiraram os trens do meu país e não tenho passaporte europeu? Ter paciência, mais uns meses reforço a poupança e tiro férias de novo…