Gilberto Jasper
Jornalista/[email protected]
A onipresença de cães e gatos, situação resumida pelo termo “pet”, é um fenômeno recente. Nasci “no interior do interior”. Nossa casa ficava a dois quilômetros de uma pequena comunidade. À exceção de feijão e arroz, o restante dos alimentos era produzido pela minha família ou vizinhos. Era uma espécie de escambo, com a troca de víveres de acordo com a necessidade de cada um.
No pátio de casa circulava gato, cachorro, passarinho de várias espécies – inclusive papagaios-, além de coelho, vacas boi e com frequência víamos cobras. Os bichos mais chegados – gatos e cachorros – respeitavam o limite de casa: nenhum deles ousava entrar. Outra característica era a alimentação da bicharada feita com restos de comida. Ração era restrita ao gado.
A pandemia turbinou o comércio de animais domésticos. O fim deste período coincidiu com a proliferação de animais abandonados nos grandes centros urbanos. Para combater a solidão e evitar a depressão, muita gente adotou um mascote, mas na hora das férias ou das viagens, o custo de uma creche ou hotelzinho aumentou o contingente de animais órfãos.
O flagelo das enchentes – que no Vale do Taquari teve três ocorrências graves, a partir de setembro de 2023 – fez com que até hoje, seis meses depois, ainda tenhamos centenas de animais domésticos em abrigos ou na casa de pessoas abnegadas pela causa dos pets. Muita gente aproveitou a tragédia das cheias para se livrar de seu cachorrinho, outrora de estimação.
Minha filha, que não resiste a um animal abandonado, adotou Café, um simpático vira-latas preto, flagelado de Alvorada, na região metropolitana. O pobrezinho chegou com a pata quebrada, o que obrigou a um gasto significativo para a realização de uma cirurgia de colocação de uma placa. Apesar da tentativa, o bonitão continua mancando, resquício do tempo que vagou pelas ruas agravando a lesão.
As férias de verão batem à porta. Lembro da entrevista de um patrulheiro da Polícia Rodoviária Federal. Revelou que não é raro flagrar motoristas que estacionam no acostamento da BR-290, a nossa free-way, e abandonam seus bichinhos, sem mais, nem menos, no caminho da praia É
muito ódio no coração para agir assim, mas o ser humano é realmente imprevisível.