Buenas!
Dias atrás comentei sobre algumas lendas que nos deixaram, nonagenários, é verdade, mas se foram. Também se foi, mas para a aposentadoria, Rafael Nadal, uma verdadeira lenda do tênis mundial. Aos 38 anos, ele anunciou que abandonou as quadras, depois uma das carreiras mais vitoriosas de todos os tempos. O corpo já não suportava as dores e as lesões.
Para se ter uma ideia, Guga, o maior tenista brasileiro de todos os tempos, ganhou três vezes Roland Garros, um dos quatro maiores torneios do mundo. Nadal ganhou 14 vezes o mesmo torneio, totalizando 22 Grand Slam, ficando atrás somente de Djokovic, que ainda está na ativa, com 24 conquistas. Mas uma hora vai para também, acreditem!
Não há escapatória, todos vamos envelhecer, uns mais cedo que outros. Um atleta profissional tem a vida útil até próximo dos 40 anos – para o esporte no caso. Alguns muito antes, devido às lesões que o próprio esporte de alto rendimento provoca. Guga parou aos 32 anos, também devido às dores no quadril, e Pelé foi até os 33 anos.
Eu parei com o futebol aos 38, devido às lesões, como todo grande atleta. Ele, o futebol, me abandonou bem antes disso. Ainda bem que me achei na natação, dá para competir além dos 100 anos, porque o único adversário que há são os seus limites pessoais, que vão ficando elásticos, com a idade.
Mas claro, nunca fui profissional na área esportiva, sempre fui metido. Ainda assim, conquistei minha cota de lesões e dores crônicas. Quem se aventura pelo esporte em busca de saúde, sabe do que estou falando, não é? O tempo é assim mesmo, corrói nossas entranhas, amassa nossos músculos, bagunça nossa regularidade intestinal.
Ultimamente, ninguém quer envelhecer. As pessoas estão se agarrando à tecnologia para frear a passagem do tempo. O que são as “harmonizações faciais”? Pessoas se transformam noutras, tudo para maquiar as marcas temporais, por não aceitar o processo.
Mas isso não é de hoje. Na minha juventude, um dos nomes mais famosos na área era o doutor Ivo Pitanguy, famoso cirurgião plástico, que chegou a ser tão famoso quanto Pelé e Carmen Miranda. Só que naquela época precisava ser muito rico para “ir para a faca” de um cirurgião. Hoje, a coisa se popularizou, inclusive, morrendo muita gente em clínicas de fundo de quintal país afora.
Assistiram o filme “A Substância”? Não está nos streamings, precisa pegar tuas perninhas e ir para uma sala de cinema. Demi Moore, no auge dos seus 60 anos, interpreta uma modelo famosa que está envelhecendo para os padrões do showbiz televisivo. Então, ela aceita um tratamento em que “ganha” um corpo jovem, mas precisa voltar para o antigo, em semanas alternadas.
Quem diz que ela quer voltar para o antigo corpo depois de passar uma semana com um corpinho de 20 anos? O final é meio trash demais para o meu gosto, mas o debate que ele promove é excelente: como lidar com as mudanças físicas que o tempo promove em nossos corpos?
Eu cá de minha parte já estou ficando apavorado. Dia desses, olhando para aquela cara no espelho depois de uma noite mal dormida, me enxerguei parecido demais com meu pai. Mas o meu pai de hoje, que já passou dos setenta! Bateu um pavor! Mas, depois de lavar o rosto e colocar os óculos, parecia que havia rejuvenescido uns dez, quinze anos, vá lá!
O desejo de não encarar a passagem do tempo é cruel consigo mesmo. Primeiro vem a negação, depois a busca de subterfúgios para para reduzir efeitos e, por fim, os procedimentos!
Precisamos, de alguma maneira, lidar com a aceitação. Sejam atletas, que fazem de tudo para superar as dores, torturando suas articulações, seja uma pessoa comum, que coloca bico de pato e bochechas artificiais, que quase fecham seus olhos. Precisam lembrar que o corpo vai cobrar um preço desta atitude.
Já leram o livro “O retrato de Dorian Grey”, lançado em 1890, por Oscar Wilde? O personagem apareceu em vários filmes, e possui uma trama bem complexa que mexeu com as estruturas sociais londrinas de fim de século. Mas, na essência, envolve um belo jovem que tem seu retrato pintado por um artista. Depois disso, ele não envelhece.
A cultura do não envelhecimento passa por muitos fatores, mas não podem esquecer que o tempo é inexorável! Ele passa por cima de tudo e de todos, nao importa se brasileiro ou americano, se bilionário ou assalariado.
O melhor que podemos fazer não é encontrar a melhor clínica de procedimentos estéticos ou implantar chip com hormônios. Precisamos de exercícios com regularidade e uma alimentação saudável e equilibrada.
Michael Pollan, especialista em nutrição, disse no livro “Em defesa da comida: um manifesto”, que precisamos três passos para comer bem: coma comida de verdade, em quantidades moderadas e principalmente vegetais.
E, por último mas não menos importante, alimente e exercite sua mente. Leia muito, livros dos mais diversos, escreva no papel, reflita, seja leve, além de apreciar o que há de belo na vida. Cada um tem seus critérios de beleza e eles precisam evoluir com o tempo.
O tempo não tem freio, passará por cima de ti, inexoravelmente…
