Buenas!
Não importa o quanto você não goste de política, não importa o quanto queira se isolar do mundo cada vez menos civilizado em que vivemos, nada disso impediu que você visse e revisse a cadeirada do Datena no Marçal.
Não importa se você gostou da cadeirada, nem se achou um absurdo, o que importa é que eles continuarão aí, seja no próximo debate, seja na sua televisão ou rede social. A única certeza é que o nível sempre será baixo, com acusações sem rumo e critério. Com isso, temos como certo que, por mais que evitemos as telas, de um modo ou de outro, iremos perder o nosso tempo.
E não é culpa nossa, tão-somente, somos, em grande parte, vítimas de um sistema que leva assuntos como uma cadeirada para as rodas de conversa e grupos de whats, asseverando aquilo que os seus protagonistas se propuseram: fazê-los assunto!
No mundo moderno eles chamam isso de trending topics que, em belo português, seriam os assuntos de tendência, no caso, os mais comentados. É exatamente isso que eles querem, ser notícia, estar na vitrine, como se dizia em eras priscas.
Nos tempos de eu guri, lembro de ouvir: “falem mal, mas falem de mim!” na boca de Paulo Maluf. Lembram dele? Foi muitas coisas, sendo a principal, empresário rico, e político em São Paulo, onde foi afastado diversas vezes e preso outras tantas por suspeita de corrupção e desvio de bilhões. O que dizia aos seus adversários e à imprensa? A frase acima…
Não que a frase fosse invenção dele, mas combinava demais com suas falcatruas e acusações de desvios, no caso, milhões e milhões. Ele, depois de algumas décadas de acusações e voltas judiciais, foi condenado. Mas não pensem que a justiça foi feita, ledo engano. Depois de décadas nas páginas políticas e policiais, após alguns meses preso, foi solto devido a idade avançada.
Ou seja, memória curta é um dos grandes problemas do país. Acusações, polêmicas, denúncias, prisões, solturas, eleições, são práticas corriqueiras do mundo político brasileiro. Houve exceção, no caso, durante os períodos ditatoriais que não deixaram nenhuma saudade. Ou será que há saudosistas aqui?
Quem dera uma cadeirada resolvesse a questão da corrupção, das falácias e das hipocrisias. Quem dera uma cadeirada ajudasse no combate à maior seca da história da Amazônia e do centro-oeste, quem dera…
Pois não resolve nem o mau caratismo dos políticos, que dizer das atitudes dos brasileiros. As pessoas brigam por política, enquanto seus representantes brigam entre si, não tendo vencedores nem de um lado nem de outro.
Eu tenho insistido na tecla de que o planeta não é o mesmo que vivenciei no século passado. Ele mudou deveras, as pessoas, nem tanto. O clima não é mais o mesmo, semanas inteiras com fumaças dominando os céus do sul do país, seca amazônicas na Amazônia, incêndios florestais intermináveis no oeste europeu, alternados por enchentes nunca antes vistas no leste do mesmo continente…
A escritora e filósofa Helen de Cruz, austríaca, fala em seu livro Wonderstruck, lançado este ano, que devemos nos maravilhar um pouco mais com o que não está no digital, mas sim, no mundo real, mesmo que distante.
Talvez seja o momento de parar um pouco, largar estas redes ou, no mínimo, reduzir sua influência nas nossas decisões e cotidiano. Parar um pouco para apreciar a Lua cheia desta semana, que está deslumbrante, o vento de primavera que já começa a entrar pela janela, cantar dos pássaros cada dia mais alto, anunciando a mudança de estação, nem tão definida assim, nos últimos tempos, já que calor e frio, chuva e sol, tem se alternado nas mesmas 24h do dia de qualquer habitante deste tão instável planeta Terra…
Em resumo, deixar o digital de lado e se maravilhar com o que está à nossa volta, admirar-se com um bom livro, mesmo que seja uma releitura de um clássico, ou ainda, com o brilho de Vênus no horizonte após o pôr do sol, deixar a chuva te surpreender, ao invés de tentar prever tudo via aplicativos ou redes sociais.
Talvez, só talvez, assim poderemos sentir um pouco mais o que nos cerca e deixar de perder nosso tempo tão preciso debatendo cadeiradas, tiros na orelha, debates sem solução, rusgas e pretensões políticas enfadonhas e sem perspectivas de melhorias, fatos que nada acrescentam ao nosso cotidiano, ganhando assim, não só mais tempo para nós, mas tempo com qualidade…