Entre as cenas mais tristes que a política já produziu no Brasil está a imagem dos filhos de Eduardo Campos abraçados à mãe, Renata, no velório do pai. O mais velho, João Henrique, era a imagem da desolação, mas se mantinha firme, enquanto a família recebia os pêsames. Há exatos 10 anos Eduardo era um promissor candidato do PSB à Presidência da República quando uma tragédia destroçou sua família. O avião locado em que o candidato viajava do Aeroporto Santos Dumont para o Guarujá se espatifou contra o solo perto da cidade de Santos.
Faltavam pouco menos de dois meses para a eleição. Nas redações, soubemos primeiro que um avião de pequeno porte caíra. Depois começaram as especulações de que Eduardo Campos viajara naquele avião, depois de ser entrevistado na véspera no Jornal Nacional. Logo depois do almoço veio a confirmação: era ele mesmo. Dois dias antes, o candidato e sua vice, Marina Silva, estiveram no estúdio da Rádio Gaúcha e deram entrevista ao Atualidade.
A impressão que o candidato deixou era de que tinha potencial para crescer. Articulado, suave, tinha boas respostas para perguntas difíceis. Naqueles dias, cruzava o Brasil de norte a sul para tentar ser conhecido, já que sua popularidade ainda era restrita ao Nordeste, depois de governar Pernambuco e apresentar soluções inovadoras para problemas complexos.
O PSB tentou convencer Renata a assumir a candidatura no lugar do marido, mas ela disse que não tinha condições, pois seria pai e mãe a partir da morte de Eduardo e precisava cuidar dos filhos, o caçula um menino especial, com Síndrome de Down. Renata deu sua bênção para que Marina assumisse a candidatura e assim foi, mas ela sofreu uma violenta campanha de difamação e ficou fora do segundo turno, disputado entre a então presidente Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB).
João, o filho mais velho, era então estudante de Engenharia. Quatro anos depois, se elegeu deputado federal por Pernambuco. Na Câmara conheceu a deputada federal Tábata Amaral, candidata do PSB à prefeitura de São Paulo. Os dois estão juntos desde então.
Em 2020 venceu a eleição para prefeito de Recife. Jovem e ainda inexperiente, era um ponto de interrogação no tabuleiro da política. Teria, além dos olhos azuis e do sorriso aberto, o mesmo talento do pai? Como administraria uma capital como Recife, sem ter sequer gerenciado “uma banquinha de pastel”, como se diz no jargão da política?
Pois João Henrique, simplesmente “João” para os pernambucanos, revelou-se mais do que uma promessa. Como prefeito, fez obras na periferia (como a contenção de encostas) e conquistou a simpatia das classes A e B. É campeão de popularidade entre os prefeitos das capitais e favorito para se reeleger no primeiro turno.
Se for mesmo reeleito, não deverá completar o mandato: o plano do PSB é que concorra ao governo de Pernambuco em 2026. Da nova geração de políticos, é uma promessa para eleições presidenciais futuras.