Buenas!
Já assistiram o último vídeo da Courtney Novak? Falei dela dias atrás, aquela americana que viralizou falando que “Memórias póstumas de Brás Cubas” é o melhor livro de todos os tempos. Ela, que está lendo um livro de cada país, abriu uma exceção após receber centenas de incentivos de leitores brazucas e terminou de ler “Dom Casmurro”. E sabem qual o veredicto dela para a maior polêmica literária de todos os tempos?
Como eu, vocês nunca esqueceram de Capitu, não importam os anos passados desde a leitura colegial, as pandemias e as enchentes que enfrentamos. Num mundo cada vez mais dicotômico, cada um tem sua opinião sobre se Capitu traiu ou não traiu.
Arrisco dizer, do alto das muitas leituras que fiz da obra-prima de Machado de Assis, que o questionamento acima só não é mais repetido mundo afora que “o ser ou não ser?”, de Hamlet, de Shakespeare. Quem sabe com os vídeos da Novak…
Mas deixando as conjecturas de lado, quantas vezes vocês leram “Dom Casmurro”? Uma só, no colégio, só porque o professor mandou! Como assim? Só leu resumo? Largue este texto agora e vá a uma biblioteca!
Bem, confesso que fui um leitor tardio de Machado, mas profícuo: li dez vezes “Dom Casmurro” não só por deleite pessoal, mas por dever profissional, o que deu no mesmo. E, a cada leitura, descobria nuances e detalhes até então escondidos, armadilhas narrativas criadas pelo mestre de todos, além, é claro, de alternar minha opinião sobre a traição, mais de uma vez.
Os estudantes dos últimos 30 anos leem uma leitura escolar obrigatória com tanto prazer quanto um doente expele uma pedra do rim esquerdo. Eles até podem gostar de ler, mas só o livro que ele escolher. O que sabe o professor, estudou tantos anos para quê? Quem sabe são os dançarinos de tik-tok, não é mesmo?
Agora não poderão reclamar, Novak, uma leitora voraz, teceu elogios fragorosos no tik-tok aos mesmos livros que os professores mandam ler nos colégios há uma centena de anos no Brasil. Eu fui um destes alunos rebeldes e, depois, um professor insistente.
Sim, caros leitores, não gostei das poucas páginas de Machado que abri no auge dos meus 15 anos, durante uma das tantas greves do ensino público. O fiz só na faculdade, mesmo assim, achei mais ou menos, apoiando o time Bentinho.
Porém – ainda bem que sempre gostei de meus poréns – encarei a leitura do dilema de Bentinho uma segunda vez. E, para surpresa geral da nação, tive uma epifania!
Para aqueles que não sabem o significado desta palavra, aproveitem a benesse de viverem sob a égide do google e seus similares. Eu tinha de recorrer ao bom, pesado e velho dicionário. Ele me ajudou bastante na construção de minha capacidade interpretativa, coisa que a atual geração, que tem todos os dicionários do mundo em suas mãos, pouco usufrui.
E afirmo sem medo de errar, um dos maiores problemas do mundo atual é a incapacidade de interpretar texto. Seja ele um livro, um site ou uma mensagem nos grupos da família.
As pessoas leem muito pouco nos dias atuais, ficando presas às manchetes cada vez mais histriônicas, buscando cativar o olhar e o clic dos usuários dos sites. Quanto mais chamativa e menos significativa for uma manchete, melhor para o dono da página.
Antigamente, os jornais estampavam manchetes em letras garrafais tentando cativar o comprador. Agora, elas continuam ali, mas nos sites e nas páginas digitais, tentando nos convencer a clicar, assim eles lucram. Mas quanto do que ali está tem sentido, valor ou é confiável se eu sou um leitor fraco, para dizer o mínimo?
Sempre fui um leitor voraz, mas aprendi a lição na segunda leitura de “Dom Casmurro”, ainda na faculdade. Estava eu pronto para deixar a casa do estudante, meu habitat por algum tempo, afinal, estudante do interior ganhando pouco. Com o livro na mão, recomecei a leitura de modo despretensioso.
Eis que, na primeira página, leio nas palavras de Bentinho, o narrador, uma frase que mudou minha vida: “não consultes dicionário, caro leitor!” Falou isto em relação ao significado de casmurro, apelido que ele recebeu de um rapagão e que os amigos próximos adoraram.
Lembrei que na primeira vez eu obedeci, não olhei dicionários. E, agora me perguntei o porquê da orientação. Teimoso, consultei e vi que o sentido de casmurro que está lá é bem diferente do que ele diz que é. Então, quem está certo? O livro é escrito em primeira pessoa, temos a versão dele, Bentinho, de seu relacionamento com Capitu.
Eureka! Como um Arquimedes que descobriu o poder da alavanca, descobri que o melhor método para encarar a leitura de “Dom Casmurro” era relativizar as informações apresentadas pelo narrador, afinal, ele tem envolvimento sentimental com o caso apresentado, no caso, seu casamento frustrado com Capitu.
E porque não fazer isso em tudo na vida? Interpretar o que dizem ou escrevem, relativizar a fonte, interpretar baseado nos interesses da pessoa que o diz, seja numa mesa de bar, seja num site de notícias, seja numa postagem de grupos de redes sociais…
Ah, quase esqueci de dizer que time a leitora americana, a Novak, escolheu: “Eu sou do time da Capitu!”. Eu também, assim como já fui do Bentinho, assim como fiquei em cima do muro, alternando com as sucessivas leituras. Estou ansioso pela próxima!
E você, qual time torce? Capitu ou Bentinho?
Notícias do dia por Germano Rigotto
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