Num período de três meses estrearam dois filmes com o mesmo personagem, um produzido no Japão e outro nos Estados Unidos… o personagem é Godzilla, e resultou em dois filmes bem diferentes em matéria de tom e execução.
No Japão Godzilla existe desde 1954… o monstro pré histórico acordado por uma explosão nuclear foi uma espécie de resposta ao terror imposto pela bomba atômica ao povo japonês. O monstro foi criado por Ishiro Honda e executado por Eiji Tsubaraya. A série japonesa de filmes está em seu 33º filme (sem contar animes e séries de TV), em seu quarto ciclo.
Já nos Estados Unidos… sem contar adaptações de filmes japoneses se tentou começar uma série de filmes em 1998, com o Godzilla de Roland Emmerich, então na crista da onda, depois de Independence Day. O filme foi uma rara unanimidade: foi odiado por todos. Os japoneses disseram que o bicharoco parecia uma jacaroa, e os americanos não embarcaram na onda. Só em 2014 os americanos emplacaram uma série de Godzilla para chamar de sua, através da (produtora) Legendary Pictures e seu Monsterverse, que também inclui King King. Em dez anos já estão em seu quinto filme, sem contar a série de TV ‘Monarch: Legado dos Monstros’, que está na Apple TV.
No final do ano passado estreou ‘Godzilla Minus One’ nos cinemas brasileiros. Foi uma surpresa: desde Godzilla vs Megalon, em 1974, não estreava nada novo do nosso lagartão favorito nos cinemas brasileiros (somente na TV e em vídeo). Outra surpresa: o filme é ótimo. É uma espécia de reimaginação da origem do bicho… passada logo no pós guerra, em 1947 (o filme original se passava mais adiante, em 1954). Temos um kamikaze fracassado, culpado pelos japoneses pela derrota deles na guerra, que vê o bicho aparecer e toma como missão pessoal mandar ele pro quinto dos infernos. Funciona aonde várias obras anteriores falhavam: nos personagens humanos, todos interessantes, com suas motivações bem plausíveis. E tem ótimos efeitos especiais, premiados (para a surpresa geral) com o Oscar. Ganho com justiça: o filme inteiro custou 12 milhões de dólares, enquanto seu maior concorrente, Guardiões da Galáxia 3, custou astronômicos 300 milhões. Foi a vitória do tostão contra o milhão, como diriam os antigos comentaristas esportivos.
Agora em março estreou ‘Godzilla vs Kong: O Novo Reino’, quinto filme do Monstroverso da Legendary Pictures e segundo encontro de Godzilla e King Kong nesse ciclo. Como posso descrevê-lo? Kong é retirado de seu novo habitat na terra oca (pobre de quem quer levar essa história a sério) para se estapear com um bicho feio pra dedéu… quando vê que não vai dar conta sozinho convoca Godzilla, que estava em paz na Ilha dos Monstros mas não foge à luta e se junta à equipe de MMA de Kong pra baixar a ripa em uns monstros abusados. O duelo final é no Rio de Janeiro, que vê os monstros botar Ipanema e Copacabana abaixo.
Qual a comparação entre os dois? O filme japonês é muito melhor, mais sério, mais dramático, um dos melhores da longa série japonesa. O filme americano se assume como galhofa… e visto assim é muito divertido. Não dá pra levar a sério, não é grande arte… mas se propõe a ser uma besteira divertida e consegue tal feito, com méritos.
Aonde ver? Os dois entraram em download digital pelos suspeitos de sempre. O filme americano vai entrar em breve no catálogo do Max, antigo HBO Max. O filme japonês deve entrar nos próximos meses na Amazon Prime, aonde os filmes da Toho geralmente entram, e aonde o filme anterior da franquia, Godzilla Ressurgência.
(aliás, Apple TV, Max, Amazon Prime e plataformas digitais… mais uma vez faço propaganda de graça pra vocês. Caso queiram retribuir o favor entrem em contato com o departamento comercial de A Plateia, sempre estamos precisando de patrocinadores para o jornal)
Carlos Thomaz PL Albornoz