Por Carlos Thomaz PL Albornoz
Boa dia.
Hoje estreio uma coluna neste valoroso jornal, sobre os assuntos que domino: música e cinema. Espero contribuir com essa instituição que tanto li e curti em meus anos de formação.
Não é anormal ouvir falar que hoje os filmes não são tão bons quanto eram antigamente… ouço pessoas inteligentes repetindo esse mantra. Eu discordo. Há várias camadas a serem discutidas, vou tentar endereçar algumas.
Primeiro, quando lembramos os ‘filmes do passado’ sempre ficamos com os bons na cabeça, ignoramos as inúmeras bombas que sempre vimos e ficaram pelo caminho. Claro, quando lembramos do cinema em 1972 sempre nos vêm à cabeça obras primas como O Poderoso Chefão, Cabaret e mais alguns… e esquecemos os abacaxis como ‘Inferno na Torre’ (por exemplo), hoje relegados ao limbo cinéfilo. Batendo os melhores filmes de uma época com os (inúmeros) abacaxis de hoje em dia é claro que teremos a impressão que o passado nos reservava melhores produções, o que não é verdade.
Hoje também há uma pulverização que nos força a procurar mais pelos grandes filmes. Até algum momento dos anos 90 era mais fácil: eles chegavam no cinema do centro, dali iam para a periferia, depois para a locadora e quando paravam de circular eram exibidos em um dos três ou quatro canais de TV aberta. Quem queria ver não tinha que fazer grande esforço, não tinha que ir atrás. Hoje é mais difícil… os cinemas estão entupidos com os blockbusters, filmes para crianças e adolescentes. Os canais de TV são destinados às novelas, deixando as atrações cinematográficas pra horários inadequados, não raro depois de onze da noite. Sobram os streamings? Pois é… para ver os melhores filmes você vai ter que assinar vários, e não raro sair catando bem depois da primeira página. Para não ajudar as páginas de cinema minguaram dos jornais, as revistas sumiram, e as que sobraram só falam de filmes de super heróis.
O que fazer então… sobra saber onde procurar. Há filmes bacanas em todos os streamings… nem sempre na primeira página, aonde estão os blockbusters. E há streamings com mais filmes legais que os outros. Vejamos o streaming dos programadores de festivais, o Mubi. Estrearam lá vários dos filmes mais legais dos últimos anos, quase sempre escondidos do grande público e da mídia. Exemplos? O ganhador do Oscar de filme estrangeiro do ano passado, o sensacional ‘Drive my Car’, de Hysuke Hamaguchi, que agora migrou para a Netflix, aonde (espero) encontre um público maior… o novo de Sofia Coppolla, ‘Priscilla’… o novo de Win Wenders, ‘Dias Perfeitos’… o novo de David Cronenberg, ‘Crimes do Futuro’… o ganhador de Cannes do ano passado, o excepcional ‘Mechane’, de Julia Decorneau… olha quanta coisa bacana ignorada pela mídia que está circulando…
(aliás, Mubi… estamos fazendo propaganda de graça pra vocês. Caso queiram agradecer entrem em contato com o departamento comercial de ‘A Platéia’)
Em resumo, não é que não hajam mais grandes filmes… eles estão espalhados por aí, esperando para serem vistos e apreciados por quem curte cinema.