qua, 20 de novembro de 2024

Variedades Digital | 16 e 17.11.24

De Lá, Pra Cá | Maria Quitéria, nossa Joanna D’Arc

Depois de mostrar sua bravura e habilidades, fardas militares são especialmente confeccionadas para vesti-la apropriadamente como mulher.

Passamos pelo Dia da Mulher, e poderia eu fazer um texto cor-de-rosa sobre as belezas da existência feminina, mas nem mesma eu “compraria”. A data existe em reconhecimento às batalhas travadas por mulheres que abriram o caminho para nós, justamente por sua luta por melhores condições de trabalho e, posteriormente, de vida.
Minha breve homenagem a nós, mulheres, se dará através de uma personagem que a história a mim encanta: Maria Quitéria de Jesus, a baiana arretada que desafiou as regras e lutou ao lado de milhares de homens pela independência do Brasil. A Joanna D’Arc brasileira.
Maria nasceu em 1792 no conforto de uma fazenda com gados e escravizados na Bahia, mas isso nunca a sossegou. Avessa às tarefas de casa, tinha como paixão os cavalos e as armas de fogo. Não preciso dizer que isso a tornava absolutamente fora do padrão da época.
Descendente de nativos da nossa terra, deve ter celebrado quando Dom Pedro I finalmente declarou a independência do Brasil. Todavia, para enfrentar a resistência de Portugal, o Imperador decide formar um exército pró-independência, enviando emissários por todos os cantos para recrutamento de… homens. E, ao chegarem na Serra da Agulha, na Bahia, quem se prontifica para a guerra é… uma mulher! Maria Quitéria! Implorou ao pai para se juntar à causa, com o discurso:

“É verdade, que não tendes filho, meu pai. Mas lembrai-vos que manejo as armas e que a caça não é mais nobre que a defesa da pátria. O coração me abrasa. Deixai-me ir disfarçada para tão justa guerra”

A resposta? “Mulheres fiam, bordam e tecem. Não vão à guerra”. Obstinada, não desistiu… saiu de casa, cortou os cabelos, vestiu-se com roupas de homem e alistou-se no exército. Em poucas semanas, quando o pai descobriu e foi buscá-la, já era tarde, pois suas habilidades já haviam sido notadas, e a baixa foi negada.
Realizou marcantes proezas nas batalhas das quais participou, inclusive a de liderar um grupo de mulheres civis em uma batalha no Recôncavo Baiano, com sucesso. Ganhou cada vez mais respeito e promoções. Quando as lutas terminaram, com vitória do Brasil, Quitéria foi recebida em Salvador e saudada como uma heroína. A convite do próprio Imperador, foi ao Rio de Janeiro e recebeu de suas mãos a Medalha da Ordem Imperial do Cruzeiro do Sul, a maior honra militar da época.
Depois da guerra, nossa protagonista voltou para casa (recebida por seu pai por livre e espontânea pressão do próprio Imperador), casou-se, teve uma filha, e, depois de perder o marido, morreu esquecida em Salvador. Somente 100 anos depois sua memória foi (amplamente) resgatada, e Maria Quitéria se firmou como a lenda que é hoje.
Nas entrelinhas está o que me conecta à história. É a coragem dela em enfrentar um sistema castrador para realizar feitos considerados como não femininos, mas que eram o seu ideal. É a capacidade de a mulher exercer vários papeis sociais, e realizá-los bem. É a sobrecarga que isso pode causar – dor já conhecida pela nossa natureza – que dificilmente nos faz parar.
Homens, que isso esteja esculpido em suas mentes, para que o esforço natural do existir feminino seja espontaneamente e sempre valorizado. Mulheres, nunca esqueçam que aquela que está ao seu lado joga no mesmo time, e não contra.
Saúdo a cada uma de nós no dia que celebra somente uma pequena parte de tudo o que contribuímos para o andar do nosso mundo.

Notícias do dia por Germano Rigotto

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