sáb, 23 de novembro de 2024

Variedades Digital | 16 e 17.11.24

Da Lá, Pra Cá | Da Babilônia à Sapucaí parte II

Na coluna passada falei um pouco sobre o fenômeno Carnaval, desde quando se tem notícias dele até sua chegada no Brasil. Em nosso solo, tomou uma proporção inimaginável.
Chegou aqui como “Entrudo”: uma festa popular portuguesa, com brincadeiras de rua, sem música nem danças, onde a diversão era jogar objetos uns nos outros. O festejo se espalhou rapidamente, e as transformações logo vieram.
A africanização da festa foi gigantesca, a maior e mais crucial modificação, principalmente nas cidades brasileiras com os maiores portos escravagistas: Rio de Janeiro, Salvador e Recife (qualquer semelhança com os mais fortes Carnavais atuais NÃO é mera

Mais antigo bloco do país (desde 1918) e único sobrevivente da época dos “Cordões Carnavalescos” do século passado

coincidência). Com isso, ganhou musicalidade com a percussão dos fascinantes batuques angolanos e congoleses. Essa festa popularizou-se e ganhou as ruas: somadas às brincadeiras próprias do Entrudo, vinham os “Zé Pereira” (grupos de foliões tocando instrumentos de percussão pelas ruas), os blocos, Ranchos e Cordões Carnavalescos. O evento sofria repressão sistemática, criminalização e, no pós-abolição, até proibição, já que significava socialização e empoderamento dos negros – o que, sim, ocorria, já que muito se arrecadou verbas para fundos de alforria em festas de Carnaval.
Já as elites queriam um Carnaval europeu, de salão, com máscaras e Corsos. Criaram, também, o Congresso das Sumidades Carnavalescas, considerada a primeira associação carnavalesca, promovendo desfiles com fantasias luxuosas, inclusive com carros alegóricos.

Chiquinha Gonzaga, compositora da primeira marchinha de Carnaval, Ô Abre Alas (1899)

Em comum: o samba ia dominando ambos os cenários. Uma história à parte.
Os blocos continuam; os Zé Pereira deixam o legado de sua percussão: as atuais “baterias”; os Ranchos e Cordões foram se expandindo e modificando para se tornarem associações carnavalescas; os desfiles da elite deixaram de existir pela queda do império e abolição da escravatura, porém suas fantasias e alegorias foram incorporadas pelas novas e mais populares associações, que se tornariam as atuais… ESCOLAS DE SAMBA, enfim, chegando à Sapucaí, quando, já com saudades, me despeço, conforme prenunciado no título desta coluna.

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